terça-feira, 28 de junho de 2022

OU CATÓLICO OU MAÇOM! – Parte I



MEU AMIGO, [1]

Ocupas uma posição de certo destaque na sociedade? És industrial, comerciante, banqueiro, mé­dico, advogado, político ou oficial militar? Pois então já foste certamente convidado a entrar na Maçonaria. Ou serás em breve solicitado pela propaganda maçônica. Falar-te-ão das imensas vantagens que os maçons de todo o mundo oferecerão aos teus negócios, da proteção que darão ao teu emprego, das facilidades que terás nos empréstimos ou nas viagens, do apoio que será dado à tua propaganda, etc. Dir-te-ão que a Maçonaria é uma instituição essencialmente caritativa, filantrópica, filosófica e progressista; que ela tem por objeto a indagação da verdade, o estudo da moral e a prática da solidariedade; que ela quer trabalhar apenas pelo melhoramento material e social da humanidade. Provar-te-ão que a Maçonaria reconhece e proclama a existência de Deus, a prevalência do espírito sobre a matéria e que, por isso, nenhum ateu ou materialista pode ser maçon. Inculcar-te-ão que a Maçonaria não é de maneira alguma contra a religião e muito menos contra a religião católica; que não há absolutamente nenhuma incompatibilidade entre Maçonaria e Catolicismo; que ela proclama a tolerância e o respeito às convicções religiosas e políticas dos outros, a autonomia da criatura humana, o amor à família, a fidelidade à pátria e a obediência à lei; que ela considera todos os homens irmãos, livres e iguais, qualquer que seja sua raça, nacionalidade ou crença; que suas leis, constituições e regulamentos proíbem expressamente falar ou discutir sobre política ou religião. Dir-te-ão que até bispos, padres e frades ilustres pertenceram à Maçonaria sem que nisso percebessem a mínima dificuldade contra sua fé e suas convicções católicas. Mostrar-te-ão leis e rituais em que se exige que o verdadeiro maçom seja virtuoso, exemplar, de bons costumes, morto para o vício, sem erros nem preconceitos, observante da lei, patriota, cumpridor do dever, apóstolo do bem, sábio, inteligente, progressista, livre, tolerante, sincero, caridoso, desinteressado, generoso, devotado, confiante, pacífico, irmão de todos, protetor das viúvas, advogado dos oprimidos...

Conceder-te-ão ser, infelizmente, verdade que a Igreja Católica condenou a Maçonaria; mas foi porque os Papas e os Bispos estavam mal informados ou agiram assim por outros motivos inconfessáveis; que, contudo, da parte da Maçonaria não há reciprocidade, que ela continua a olhar para a Igreja e seus Sacerdotes com admiração e simpatia, vendo nela um dos maiores esteios sociais da nação; que a Maçonaria nunca se intrometeu e não se intromete na vida da Igreja, senão quando solicitada e para fazer-lhe o bem; e que, portanto, é injusta, injustíssima a acusação de que a Maçonaria combate a Igreja Católica...

Entretanto, meu amigo, antes de acreditares em todas estas comoventes, lindas e atraentes afirma­ções lançadas pela propaganda maçônica, eu peço a tua benevolente atenção, por alguns instantes apenas, para atender também às razões que a Igreja teve e tem ao interditar a seus fiéis a iniciação na Ordem Maçônica. Não quero tirar-te a liberdade física de entrar na Maçonaria; mas antes que te resolvas a dar este importante passo, rogo-te pensar bem no abismo de incompatibilidades profundas e radicais que vão entrar em tua vida desde o momento em que livremente te enfileirares entre os Irmãos de Hiram.


DOUTRINA MAÇÔNICA E DOUTRINA CATÓLICA


A Constituição do Grande Oriente do Brasil, de 1951 (edição de 1955), logo no art. 1, § 1, fala dos «requisitos essenciais» que devem verificar-se no candidato à iniciação; e um desses requisitos, indicado sob a letra g, sem o qual nenhum cidadão pode ser maçom, é este: «Não professar ideologias contrárias aos princípios maçônicos e democráticos». É por isso que o art. 32, nº 13, confere ao Grão Mestre Geral a atribuição de «suspender, com motivos fundamentados, para que sejam eliminados pelos poderes competentes, os Maçons que professarem ideologias ou doutrinas contrárias aos princípios da Ordem e da Democracia». Será, pois, expulso da Maçonaria o maçom que não cumprir este seu dever de professar perfeita adesão às doutrinas Maçônicas. Quer isto dizer que a Maçonaria tem seus princípios, suas doutrinas e que todo maçom as deve aceitar e professar. De maneira nenhuma negamos à Maçonaria o direito de ter sua doutrina e de manter-se firme na defesa de seus «grandes princípios invariáveis e imutáveis». Sociedade bem organizada e disciplinada, era mesmo de esperar semelhante firmeza.

Ora, convém lembrar que também a Igreja Católica se apresenta como sociedade organizada e disciplinada; e que também ela tem os seus princípios doutrinários mantidos com firmeza e constância. Também a Igreja exige de seus fiéis o dever de professar perfeita adesão às doutrinas Católicas. Também ela elimina ou expulsa do rol de seus fiéis todo aquele que professar ideologias contrárias aos seus princípios fundamentais.

Surge, assim, diante de ti, que és católico e convidado a ser maçom, o seguinte problema: como católico, tens o dever de professar perfeita adesão à doutrina da Igreja; como maçom, terás o dever de professar perfeita adesão à doutrina da Maçonaria. Pergunto agora: será possível conciliar estes dois deveres? É evidente que a resposta depende de um cotejo claro entre a doutrina maçônica e a doutrina católica. Quanto à doutrina católica não haverá maiores dificuldades em conhecê-la: estão aí, à disposição de todos, os livros e manuais que a apresentam sem rebuços. Mas com relação à doutrina maçônica a questão se torna mais difícil e complicada por causa da rigorosa disciplina do segredo que torna hermeticamente fechados os maçons. Durante a própria cerimônia de iniciação no grau de Aprendiz, momentos antes do juramento, depois de o neófito formular oficialmente o pedido de ser recebido maçom, o Venerável dirige-lhe a seguinte grave advertência: «Refleti bem no que pedis. Não conheceis os dogmas e os fins da Associação a que desejais pertencer; e ela não é um simples agrupamento de auxílio mútuo e de caridade». E aqui, para podermos ir adiante, precisamos intercalar pequeno inciso:

O caráter secreto da Maçonaria. - Não querem os maçons se diga que sua associação é uma sociedade secreta; isso seria uma calúnia inventada por seus adversários. Segundo eles a Maçonaria é discreta, não secreta. Entretanto, os documentos oficiais exigem outra linguagem:

a) De acordo com o art. 4, nº 4[2], da vigente Constituição do Grande Oriente do Brasil, é dever do maçom: «Nada imprimir nem publicar sobre assunto maçônico, ou que envolva o nome da Instituição, sem expressa autorização do Grão Mestre». O art. 17, letra p, impõe o mesmo dever às lojas.

b) O vigente Regulamento Geral da Maçonaria Brasileira repete, no art. 92[3], as mesmas determinações. E no art. 163, § 3, determina que o neófito, antes de ser iniciado, prometa o seguinte: «Prometo servir com honra e desinteresse a Maçonaria, guardar os seus segredos e cumprir as suas leis» etc.

e) A Lei Penal[4] da Maçonaria Brasileira, atualmente em vigor, considera no art. 17, § 4[5], delito de primeira classe: «A revelação de cerimônias, rituais ou outros mistérios, não se tratando dos grandes mistérios da Ordem». E no art. 18, § 8, é proclamado delito de segunda classe, punido com a expulsão da Ordem: «A revelação a quem quer que, impedido de o saber, dos grandes segredos da Ordem». O mesmo art., no § 16, proíbe, sob pena de eliminação: «A publicação, distribuição ou reprodução por qualquer forma gráfica, sem legal licença escrita, de qualquer prancha [carta circular], documento ou ato maçônico»; e ainda, no § 18: «O fornecimento, direto ou indireto, a profano ou ma­çom irregular, de documentos ou quaisquer efeitos maçônicos, sem formal autorização».

d) Os vários Rituais Maçônicos, atualmente em uso aqui no Brasil, falam constantemente dos «segredos e mistérios da Maçonaria». Assim o maçom Aprendiz (1º grau) deve jurar, sob pena de ter o pescoço cortado, «nunca revelar qualquer dos mistérios da Maçonaria que me vão ser confiados,.. nunca os escrever, gravar, traçar, imprimir ou empregar outros meios pelos quais possa divulgá-los»; o Companheiro (2º grau) promete e jura, sob pena de ter arrancado o coração, «nunca revelar aos Aprendizes os segredos do grau de Companheiro, que me vão ser confiados»; também o Mestre (3º grau) prefere ter dividido o corpo ao meio e ver suas entranhas arrancadas e reduzidas a cinzas, a «revelar os segredos do grau de Mestre».

Afirmam estes documentos oficiais que a Maçonaria Brasileira atual possui seus «mistérios», «grandes mistérios», «segredos» e «grandes segredos» que, de maneira alguma e sob a cominação dos mais graves castigos, podem ser revelados. Ora, é precisamente a isto que qualquer dicionário daria a qualificação de sociedade secreta e terrivelmente secreta e não apenas «discreta».

Não obstante, podemos adiantar que caíram em nosso poder pessoal os mais secretos documentos e livros da Maçonaria no Brasil. Inspiramo-nos exclusivamente nestes documentos autênticos deste nosso atual movimento maçônico para conhecer sua verdadeira doutrina. Como o presente caderno tem apenas a finalidade de dar-te sumárias informações, não será possível documentar aqui cada uma de nossas informações sobre os principais pontos da doutrina maçônica. Semelhante documenta­ção poderás encontrar no livro: A Maçonaria no Brasil. Orientação para os Católicos, livro que publicamos na Editora Vozes (Caixa Postal 23, Petrópolis, R. J.). Com base nesta documentação, apresentamos o seguinte cotejo entre a doutrina maçônica e a doutrina católica:


Doutrina maçônica:

Doutrina Católica:

1) Existe um Ser Supremo, convenientemente denominado “Grande Arquiteto do Universo”.

1) Existe um Ser Supremo, Criador e Conservador de todos os seres contingentes, que com sua paternal Providência vela sobre cada uma de suas criaturas.

2) Para o conhecimento da natureza íntima do Ser Supremo a razão humana permanece entregue às suas próprias luzes e forças naturais; pois não consta que Deus se tenha revelado aos homens, nem poderia fazê-lo em vista da dignidade e autonomia da razão humana.

2) Para o conhecimento da natureza íntima do Ser Supremo a razão humana, entregue apenas às suas próprias luzes e forças naturais, é radicalmente insuficiente; foi por isso que o próprio Deus, principalmente por Seu Filho Unigênito, Jesus cristo, Se dignou de falar sobre Si aos homens.

3) É sagrado e inviolável, em todo indivíduo humano, o direito de pensar livremente.

 

3) É sagrado e inviolável, em todo indivíduo humano, o direito de orientar livremente o seu pensamento de acordo com a realidade objetiva preexistente; não, porém, contra essa realidade, porquanto o erro não tem direitos.

4) O homem deve dirigir seus atos e sua vida exclusivamente de acordo com a sua própria razão e consciência.

4) O homem deve dirigir seus atos e sua vida de acordo com a sua própria consciência e, sobretudo, de acordo com os mandamentos revelados positivamente por Deus.

5) É o próprio indivíduo que deve regular suas relações com o Ser Supremo e o modo como cultuá-l’O.

 

5) É em primeiro lugar o próprio Deus que regula o modo como deve ser cultuado pelo homem, Sua criatura; e o homem deve acomodar-se às determinações divinas.

6) Qualquer coação ou influência externa, seja de ordem física, seja de ordem moral, no sentido de dirigir ou orientar o pensamento do indivíduo, deve ser considerado como atentado contra um direito natural e sagrado e por isso deve ser denunciado com violência e injustiça. A maçonaria considera seu dever principal combater esta violência, ambição e fanatismo.

6) Ninguém deve ser coagido contra sua vontade a abraçar a fé na Revelação Cristã; mas pelo ensino, pela educação e formação, o homem pode e deve ser influenciado e melhorado por outros; e isso não só não é violência alguma, ou injustiça, mas é excelente obra de caridade cristã. A Igreja Católica considera seu dever principal trabalhar na instrução e na educação moral e religiosa de todos os homens.

7) O meio ambiente em que vive e respira o indivíduo humano deve manter-se rigorosamente neutro, sem hostilizar nem favorecer religião alguma determinada, nem mesmo a religião cristã.

7) O meio ambiente em que vive e respira o indivíduo humano deve estar impregnado de princípios religiosos e morais certamente revelados e ordenados por Deus.

8) A sociedade e mormente o Estado devem manter-se oficialmente indiferentes perante qualquer religião concreta.

8) O ideal seria que a sociedade e mormente o Estado dessem oficialmente aos cidadão os meios e as facilidades de passarem sua vida inteiramente segundo as leis e prescrições de Deus.

9) O ensino público, dado e mantido pelo Estado, deve ser absolutamente leigo ou neutro em assuntos religiosos.

9) O ensino público, dado e mantido pelo Estado, não pode abstrair de Deus e de Suas leis e determinações. Concretamente o ensino leigo ou neutro é impossível e resvala para o ateísmo.

10) A Maçonaria aceita e defende os elementos da religião natural e abstrai da religião cristã, mas sem hostilizá-la.

10) A Igreja Católica aceita e defende os elementos verdadeiros da religião natural e abraça com amor e gratidão a religião cristã, sabendo ser impossível permanecer indiferente perante Cristo: “Quem não for por mim será contra mim” (Lc 11, 23).

11) A Maçonaria reconhece que todas as religiões são boas e iguais perante Deus.

11) A Igreja Católica reconhece que, perante Deus, só é boa e aceitável a religião ensinada pelo próprio Deus, mediante Cristo Jesus. “Nem todo aquele que me disser: Senhor! Senhor! Entrará no reino dos céus; mas somente aquele que fizer a vontade de meu Pai celeste” (Mt 7, 21).

12) A Maçonaria não exige a necessidade de fé cristã e do batismo cristão.

12) “Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado” (Mt 16, 16).

13) A Maçonaria não exige a necessidade de “comer a carne de Cristo e beber o seu sangue” (a Comunhão ou Eucaristia).

13) “Se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós” (Jo 6, 53).

14) A Maçonaria condena como contrária à moral, retrógada e antissocial a existência de corporações religiosas que segregam seres humanos da sociedade e da família[6].

14) “Se queres ser perfeito, vai, vende todos os teus bens e dá-os aos pobres, e terás um tesouro no céu; depois, vem e segue-me” (Mt 19, 21); “em verdade vos digo que todo aquele que por causa de mim e do evangelho deixar casa, ou irmão, ou irmã, ou mãe, ou pai, ou filho, ou campo, receberá, já nesta vida, no meio de perseguições, o cêntuplo em casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos; e no mundo futuro terá a vida eterna” (Mt 10, 29-30).

15) A Maçonaria proclama que o matrimônio não é sacramento e que o divórcio, em certos casos, é uma exigência da lei natural.

15) A Igreja Católica ensina que o Matrimônio é um vínculo santo e sagrado, verdadeiro sacramento (quer dizer: meio de santificação) e que, em caso algum, é permitido divórcio[7].


A frontal oposição entre a doutrina maçônica e a católica é manifesta: a Igreja e sua doutrina de um lado, a Maçonaria e sua doutrina doutro lado. São, como se vê, dois campos opostos. São duas sociedades irreconciliáveis em sua doutrina: ou a Igreja ou a Maçonaria. Ou católico ou maçom! Querer aceitar a doutrina de uma e outra é impossível. É por isso que o maçom, que tem o dever essencial de professar perfeita adesão aos princípios da Maçonaria, se quiser ser consequente, se quiser conservar o bom-senso e a lógica, deve necessariamente renegar as doutrinas da Igreja e deixar de ser católico. Mas é também por isso que o católico, que igualmente tem o dever imprescindível de professar perfeita adesão à doutrina da Igreja, deve consequentemente renegar os princípios da Maçonaria e deixar de ser maçom. 

E aí está a primeira razão, evidente, clara, imposta pela lógica e pelo bom-senso, por que a Igreja devia proibir aos seus fiéis a iniciação na Maçonaria: é pura e simplesmente um caso de coerência. Condenar-se-ia a si mesma a Igreja, se permitisse ou tolerasse maçons entre os fiéis, se não excluísse da recepção dos sacramentos os que, por princípio, não mais creem nestes meios de santificação instituídos por Cristo.







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[1] Opúsculo escrito pelo Frei Boaventura Kloppenburg e publicado em 1960. Notas nossas.

[2] Atual art. 27, inciso VI (cf. também o inciso VII).

[3] Cf. art. 24, XIII, da atual Constituição do Grande Oriente do Brasil.

[4] Atualmente Código Disciplinar Maçônico.

[5] A legislação maçônica está em constante mutação, porém, conferir o art. 49, incisos XVI e XXIV e o art. 50, I, do atual Código Disciplinar.

[6] O leitor atento já deve ter-se perguntado a esta altura se o mundo atual não é um mundo maçônico. E a resposta é positiva. A maçonaria e seus sequazes moldaram o mundo em que vivemos atualmente, mas poucos se dão conta disso.

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