«Cum dicat Dominus»
de 11 de Junho de 1232
Gregório, Bispo
Servo dos Servos de Deus
aos veneráveis irmãos Arcebispos e Bispos e aos diletos
filhos Abades, Priores e outros Prelados das Igrejas, que lerão a presente carta,
saúde e bênção apostólica.
O Senhor, ao dizer pelo Profeta: Entregar-vos-ei a todas as nações
para louvor, glória e honra[1] e,
por Si próprio ao prometer que os justos brilharão como o sol na presença de Deus[2],
quer significar que é piedoso e justo que louvemos e glorifiquemos na terra com
a nossa veneração aqueles a quem Deus coroa e honra no céu com o mérito da
santidade. Aquele que é eternamente digno de louvor e glória[3] torna-se
mais louvado e glorificado nos Seus santos.
De fato, Deus, para manifestar de forma admirável o poder da
Sua força e realizar com misericórdia a causa da nossa salvação, coroa sempre
no céu os Seus fiéis e, com frequência, também os honra neste mundo, realizando
sinais e prodígios que os tornam memoráveis. Por tais sinais e prodígios é
confundida a maldade herética e confirmada a fé católica. Os fiéis, sacudida a
tibieza espiritual, despertam-se ao cumprimento das boas obras; os hereges,
removida a caligem das trevas em que se encontram envolvidos, abandonam os caminhos
da perdição e retomam o caminho da salvação; os judeus e os pagãos, conhecida a
verdadeira luz, correm ao encontro de Cristo, luz, caminho, verdade e vida[4].
Por isso, caríssimos irmãos, damos graças ao despenseiro de
todas as graças, se não tantas quantas devemos, pelo menos quantas de que somos
capazes. É que em nossos dias, para confirmação da fé católica e confusão da
maldade herética, Deus visivelmente renova os sinais e emprega com poder as
maravilhas, fazendo brilhar por meio de milagres aqueles que robusteceram a fé
católica com o ardor das suas convicções, com a eloquência da sua palavra e o
exemplo da sua virtude.
No número destes acha-se o bem-aventurado Antônio, da Ordem
dos Frades Menores, de santa memória. Enquanto viveu no mundo, possuiu grandes
méritos; agora, vivendo no céu, brilha com muitos milagres, que demonstram de
forma evidente a sua santidade.
Há tempos, o nosso venerável irmão o Bispo de Pádua e os nossos
amados filhos o Presidente e os vereadores do Município, mediante legados seus
e cartas cheias de humildade, suplicaram-nos que mandássemos recolher
testemunhos dos milagres do Santo, a quem o Senhor concedeu tamanha glória, ao
ponto de lhe dar a ciência da sua primeira estola imortal e evidente
experiência da segunda, concedendo que no seu túmulo se realizassem grandes milagres.
Assim, ele é digno de que sejam invocados os seus sufrágios entre os demais
santos.
Embora para algum santo estar junto de Deus, na Igreja triunfante,
baste só a perseverança final, conforme o que se lê: sê fiel até à morte, e
dar-te-ei a coroa da vida[5],
todavia, para alguém ser considerado santo entre os homens, na Igreja
militante, são necessários dois requisitos: a santidade da vida e a verdade dos
sinais, ou seja, méritos e milagres. É necessário que estes dois requisitos se
unam e se completem reciprocamente, dado que não bastam méritos sem milagres,
nem milagres sem méritos para dar aos homens o testemunho da santidade. Mas
quando genuínos méritos precedem e evidentes milagres sucedem, então possuímos um
indício seguro de santidade, que nos levam à veneração daquele que Deus mostra
ser digno de ser venerado por méritos precedentes e milagres subsequentes.
Estes dois fatos deduzem-se facilmente a partir das palavras do Evangelista:
eles, porém, partiram e pregaram por toda a parte, cooperando com eles o
Senhor, o qual confirmava a sua doutrina com os milagres que se lhe seguiam[6].
Por isso, resolvemos encarregar de recolher os testemunhos dos
milagres do mesmo santo o citado Bispo e os diletos filhos Frei Jordano, de São
Bento, e a Frei João, de Santo Agostinho, Priores dos dois conventos dos Frades
Pregadores de Pádua.
Há pouco tempo, porém, tanto pelo relatório dos citados Bispo
e Priores, como pelos depoimentos das testemunhas recebidos sobre o assunto,
certificámo-nos das virtudes de Antônio e dos seus milagres insignes. E tendo
Nós próprio, um dia, apreciado a sua santidade de vida e as maravilhas do seu
ministério, pois viveu edificantemente algum tempo conosco, depois de instantes
e renovadas súplicas dos citados Bispo, Presidente do Município e seus edis,
mediante delegados seus e cartas, com o objetivo de inscrevermos no catálogo
dos santos o bem-aventurado Antônio, a fim de que, por meio da nossa autoridade
apostólica, como exige o ordenamento eclesiástico, fosse conferido na terra a
digna honra a quem é honrado no céu, como se depreende dos sinais claros e argumentos
evidentes.
Ouvido o conselho dos nossos irmãos (Cardeais) e de todos os
Prelados existentes na Sé Apostólica, chegámos à conclusão de que deveríamos
inscrever no catálogo dos Santos aquele mesmo que depois da morte corporal
mereceu estar com Cristo no céu. Se permitíssemos privar da devoção humana por
mais tempo aquele que foi glorificado pelo Senhor, pareceria que de algum modo
lhe tirávamos a honra e a glória que lhe eram devidas.
Portanto, segundo a verdade evangélica, ninguém deve acender
o candeeiro e pô-lo debaixo do alqueire, mas sobre o candelabro, a fim de que
todos os que estão em casa vejam a luz[7]. Ora,
o candeeiro do citado Santo de tal modo brilhou até agora neste mundo, que, por
graça de Deus, já mereceu ser colocado, não debaixo do alqueire, mas sobre o
candelabro.
Por isso, Nós pedimos a todos, ardentemente vos admoestamos
e exortamos, mandando por esta Carta Apostólica que desperteis salutarmente a
devoção dos fiéis a venerá-lo. Vós, portanto, celebrareis todos os anos no dia
13 de Junho a sua festa e mandareis que ela seja solenemente celebrada, para
que o Senhor, movido pela sua intercessão, nos conceda a graça no presente e a
glória no futuro.
Nós, porém, desejando que o túmulo de tão grande Confessor,
que ilustra toda a Igreja com os fulgores dos milagres, seja visitado com as
devidas honras, a todos aqueles que verdadeiramente arrependidos e confessados
e com a devida reverência o visitarem todos os anos na sua festa e durante a
oitava, confiados na misericórdia de Deus e na autoridade dos Bem-aventurados Apóstolos
São Pedro e São Paulo, concedemos benevolamente um ano de indulgência da
penitência que lhes tiver sido imposta.
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