Ao tempo em que era Custódio de Limoges, numa viagem que fez de Limoges para a Itália, sucedeu-lhe atravessar a província da Provença. Tendo chegado a um lugarejo já depois da hora da refeição, uma mulher piedosa e pobre, sabendo que ele e o companheiro estavam em jejum, compadeceu-se da sua situação de pobreza e de fome e levou-os para sua casa para lhes dar de comer.
A mulher, rivalizando com Marta em os servir, apresentou na mesa pão e vinho, tendo pedido emprestado a uma vizinha um copo de vidro.
Mas Deus, querendo tirar proveito da provação, permitiu que a mulher, ao tirar o vinho da vasilha, deixasse descuidadamente a torneira aberta e o vinho derramou-se todo pelo pavimento da despensa. Por sua vez, o companheiro de António, ao receber desajeitadamente o copo de vidro, bateu com ele na mesa de tal sorte que a copa intacta foi parar a um lado e o pé a outro.
Pelo fim da refeição, a mulher, querendo oferecer vinho novo aos frades, ao entrar na despensa, viu o vinho entornado pelo pavimento. Voltou para trás a lamentar-se, triste, desolada e perturbada; e, enquanto informava que o vinho se tinha derramado por causa da sua falta de cuidado, o bem-aventurado António, compadecendo-se da infelicidade da mulher, pôs a cabeça entre as mãos, por cima da mesa, meditando naquela palavra do Apóstolo: Orarei com o espírito e com o entendimento[1].
Enquanto a mulher olhava para ele a rezar nesta posição e estava na expectativa do que ia acontecer, eis que subitamente — coisa admirável de dizer! — a copa do copo de vidro que estava dum lado da mesa se sobrepôs por si mesma ao pé, que estava do outro. À vista disto, a mulher ficou cheia de espanto, pegou rapidamente no copo e, agitando-o fortemente, apercebeu-se de que ele estava intacto por virtude da oração.
Crendo que a força que tinha reparado o copo poderia recuperar o vinho entornado, a passo ligeiro dirige-se para a despensa; a vasilha, que antes a custo estaria meia, encontrou-a agora tão cheia que o vinho saía pelo cimo da vasilha a borbulhar, como novo. De facto, era novo, porque Deus o criara de novo para poupar ao humilde Antônio a vergonha e o embaraço e para, em tão estupendo milagre, se tornar manifesto o poder da oração.
Mas, apenas o Santo sentiu que fora ouvido, logo deixou a localidade, fugindo, como discípulo da humildade, de lugares onde pudesse ser honrado e louvado pelo povo.
Extraído da Legenda Rigaldina, capítulo V.
Santo Antônio de Pádua, rogai por nós!
[1] 1 Cor 14, 15.
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