terça-feira, 26 de abril de 2022
DA ORAÇÃO DE SANTO ANTÔNIO QUE RESTAUROU UM COPO QUEBRADO E ENCHEU UMA VASILHA DE VINHO
sexta-feira, 22 de abril de 2022
BULA DA CANONIZAÇÃO
«Cum dicat Dominus»
de 11 de Junho de 1232
Gregório, Bispo
Servo dos Servos de Deus
aos veneráveis irmãos Arcebispos e Bispos e aos diletos
filhos Abades, Priores e outros Prelados das Igrejas, que lerão a presente carta,
saúde e bênção apostólica.
O Senhor, ao dizer pelo Profeta: Entregar-vos-ei a todas as nações
para louvor, glória e honra[1] e,
por Si próprio ao prometer que os justos brilharão como o sol na presença de Deus[2],
quer significar que é piedoso e justo que louvemos e glorifiquemos na terra com
a nossa veneração aqueles a quem Deus coroa e honra no céu com o mérito da
santidade. Aquele que é eternamente digno de louvor e glória[3] torna-se
mais louvado e glorificado nos Seus santos.
De fato, Deus, para manifestar de forma admirável o poder da
Sua força e realizar com misericórdia a causa da nossa salvação, coroa sempre
no céu os Seus fiéis e, com frequência, também os honra neste mundo, realizando
sinais e prodígios que os tornam memoráveis. Por tais sinais e prodígios é
confundida a maldade herética e confirmada a fé católica. Os fiéis, sacudida a
tibieza espiritual, despertam-se ao cumprimento das boas obras; os hereges,
removida a caligem das trevas em que se encontram envolvidos, abandonam os caminhos
da perdição e retomam o caminho da salvação; os judeus e os pagãos, conhecida a
verdadeira luz, correm ao encontro de Cristo, luz, caminho, verdade e vida[4].
Por isso, caríssimos irmãos, damos graças ao despenseiro de
todas as graças, se não tantas quantas devemos, pelo menos quantas de que somos
capazes. É que em nossos dias, para confirmação da fé católica e confusão da
maldade herética, Deus visivelmente renova os sinais e emprega com poder as
maravilhas, fazendo brilhar por meio de milagres aqueles que robusteceram a fé
católica com o ardor das suas convicções, com a eloquência da sua palavra e o
exemplo da sua virtude.
No número destes acha-se o bem-aventurado Antônio, da Ordem
dos Frades Menores, de santa memória. Enquanto viveu no mundo, possuiu grandes
méritos; agora, vivendo no céu, brilha com muitos milagres, que demonstram de
forma evidente a sua santidade.
Há tempos, o nosso venerável irmão o Bispo de Pádua e os nossos
amados filhos o Presidente e os vereadores do Município, mediante legados seus
e cartas cheias de humildade, suplicaram-nos que mandássemos recolher
testemunhos dos milagres do Santo, a quem o Senhor concedeu tamanha glória, ao
ponto de lhe dar a ciência da sua primeira estola imortal e evidente
experiência da segunda, concedendo que no seu túmulo se realizassem grandes milagres.
Assim, ele é digno de que sejam invocados os seus sufrágios entre os demais
santos.
Embora para algum santo estar junto de Deus, na Igreja triunfante,
baste só a perseverança final, conforme o que se lê: sê fiel até à morte, e
dar-te-ei a coroa da vida[5],
todavia, para alguém ser considerado santo entre os homens, na Igreja
militante, são necessários dois requisitos: a santidade da vida e a verdade dos
sinais, ou seja, méritos e milagres. É necessário que estes dois requisitos se
unam e se completem reciprocamente, dado que não bastam méritos sem milagres,
nem milagres sem méritos para dar aos homens o testemunho da santidade. Mas
quando genuínos méritos precedem e evidentes milagres sucedem, então possuímos um
indício seguro de santidade, que nos levam à veneração daquele que Deus mostra
ser digno de ser venerado por méritos precedentes e milagres subsequentes.
Estes dois fatos deduzem-se facilmente a partir das palavras do Evangelista:
eles, porém, partiram e pregaram por toda a parte, cooperando com eles o
Senhor, o qual confirmava a sua doutrina com os milagres que se lhe seguiam[6].
Por isso, resolvemos encarregar de recolher os testemunhos dos
milagres do mesmo santo o citado Bispo e os diletos filhos Frei Jordano, de São
Bento, e a Frei João, de Santo Agostinho, Priores dos dois conventos dos Frades
Pregadores de Pádua.
Há pouco tempo, porém, tanto pelo relatório dos citados Bispo
e Priores, como pelos depoimentos das testemunhas recebidos sobre o assunto,
certificámo-nos das virtudes de Antônio e dos seus milagres insignes. E tendo
Nós próprio, um dia, apreciado a sua santidade de vida e as maravilhas do seu
ministério, pois viveu edificantemente algum tempo conosco, depois de instantes
e renovadas súplicas dos citados Bispo, Presidente do Município e seus edis,
mediante delegados seus e cartas, com o objetivo de inscrevermos no catálogo
dos santos o bem-aventurado Antônio, a fim de que, por meio da nossa autoridade
apostólica, como exige o ordenamento eclesiástico, fosse conferido na terra a
digna honra a quem é honrado no céu, como se depreende dos sinais claros e argumentos
evidentes.
Ouvido o conselho dos nossos irmãos (Cardeais) e de todos os
Prelados existentes na Sé Apostólica, chegámos à conclusão de que deveríamos
inscrever no catálogo dos Santos aquele mesmo que depois da morte corporal
mereceu estar com Cristo no céu. Se permitíssemos privar da devoção humana por
mais tempo aquele que foi glorificado pelo Senhor, pareceria que de algum modo
lhe tirávamos a honra e a glória que lhe eram devidas.
Portanto, segundo a verdade evangélica, ninguém deve acender
o candeeiro e pô-lo debaixo do alqueire, mas sobre o candelabro, a fim de que
todos os que estão em casa vejam a luz[7]. Ora,
o candeeiro do citado Santo de tal modo brilhou até agora neste mundo, que, por
graça de Deus, já mereceu ser colocado, não debaixo do alqueire, mas sobre o
candelabro.
Por isso, Nós pedimos a todos, ardentemente vos admoestamos
e exortamos, mandando por esta Carta Apostólica que desperteis salutarmente a
devoção dos fiéis a venerá-lo. Vós, portanto, celebrareis todos os anos no dia
13 de Junho a sua festa e mandareis que ela seja solenemente celebrada, para
que o Senhor, movido pela sua intercessão, nos conceda a graça no presente e a
glória no futuro.
Nós, porém, desejando que o túmulo de tão grande Confessor,
que ilustra toda a Igreja com os fulgores dos milagres, seja visitado com as
devidas honras, a todos aqueles que verdadeiramente arrependidos e confessados
e com a devida reverência o visitarem todos os anos na sua festa e durante a
oitava, confiados na misericórdia de Deus e na autoridade dos Bem-aventurados Apóstolos
São Pedro e São Paulo, concedemos benevolamente um ano de indulgência da
penitência que lhes tiver sido imposta.
terça-feira, 19 de abril de 2022
BILOCAÇÃO DE SANTO ANTÔNIO PARA CANTAR O OFÍCIO
DE UM MENINO MORTO A QUEM SANTO ANTÔNIO MIRACULOSAMENTE RESSUSCITOU
sexta-feira, 15 de abril de 2022
SOBRE A ADORAÇÃO DA SANTA CRUZ
quarta-feira, 13 de abril de 2022
SOBRE O SACRIFÍCIO DA MISSA E SEU RITO, CONTRA OS LUTERANOS — CARDEAL TOMÁS CAETANO
Publicamos já o estupendo milagre da mula feito por Santo Antônio para convencer um herege da presença real, verdadeira, em corpo, sangue, alma e divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo na Hóstia Sagrada. Mas agora, para trazer algo doutrinário, publicamos a clássica resposta teológica do Cardeal Caetano aos erros de Lutero.
Sobre o Sacrifício da Missa e seu Rito, contra os Luteranos — Cardeal Tomás Caetano
De Missae Sacrificio et Ritu, adversus Lutheranos
Ao Papa Clemente VII, Sumo Pontífice.
Dividido em seis capítulos.
1. Sobre o que é este trabalho.
2. Concordâncias e diferenças entre católicos e luteranos
sobre o Sacrifício da Missa.
3. Pela instituição de Cristo, a Eucaristia é imolada.
4. Pela instituição de Cristo, a Eucaristia é imolada para a
remissão dos pecados.
5. Objeções da Epístola aos Hebreus contra o Sacrifício da
Missa.
6. Resposta às objeções.
Saudações ao Sumo
Pontífice Clemente VII da parte do Cardeal Tomás de Vio Caetano.
Santíssimo Padre: certa vez o senhor me ordenou, como
consultor do Núncio, que escrevesse o que deveria ser respondido quanto às
objeções do livro sobre a Ceia do Senhor, que afirmava que na Eucaristia está o
Corpo e o Sangue do Senhor apenas como no símbolo; Mas desde que eles me
ofereceram muito recentemente outro livreto luterano, também sobre a Ceia do
Senhor, que afirma que na Eucaristia está o verdadeiro Corpo e Sangue, mas nega
o sacrifício da Missa, pareceu-me que também contra todas aquelas igrejas dos
cismáticos não era necessária nenhuma ordem para conhecer as razões do erro
desta nova heresia, senão que faz parte do meu ofício. Receba, então, para que
você possa julgar de acordo com sua opinião, este pequeno trabalho. Com os
melhores desejos.
Primeiro capítulo —
Sobre o que é este trabalho (Quae sit intentio operis)
O único Mestre de todos, Nosso Senhor Jesus Cristo, ao
refutar os Saduceus, apenas argumentou com base nos livros de Moisés, que eram
os únicos que eles aceitavam. Assim, ele nos mostrou que contra os hereges não
usamos evidências que eles não admitem, mas apenas os testemunhos sagrados que
eles não negam.
Por isso, ao escrever sobre o Sacrifício da Missa contra os
hereges chamados luteranos que se apoiam unicamente nos testemunhos da Sagrada
Escritura, pretendo realizar toda a discussão e explicação com base apenas nas
[mesmas] Sagradas Escrituras. Não só para que não se vangloriem de dizer que,
ao negar o sacrifício da Missa, se baseiam no sólido fundamento das Sagradas
Escrituras, mas também para que aqueles com menos instrução não pensem que o
Sacrifício da Missa não se baseia na autoridade das Escrituras, mas apenas na
instituição da Igreja; e também para que os luteranos, que erram por
ignorância, possam reconsiderar.
Para que todos possam saber claramente a verdade, primeiro
se explicará em que concordam e como os luteranos diferem dos católicos;
depois, o que se encontra nas Sagradas Escrituras sobre o sacrifício da Missa;
e, finalmente, as objeções luteranas serão resolvidas.
Segundo capítulo —
Concordâncias e diferenças entre católicos e luteranos sobre o Sacrifício da
Missa (Convenientia et differentia Lutheranorum cum Catholicis circa
sacrificium Missae)
Os luteranos concordam que a Missa pode ser chamada de
“sacrifício memorial”, porque o verdadeiro Corpo de Cristo, com seu verdadeiro
Sangue, é consagrado, venerado e recebido em memória do sacrifício oferecido na
cruz; pois o Senhor diz: “Fazei isto em minha memória” [Lc. 22,19; 1 Cor.
11,24–25].
Mas eles negam duas coisas. A primeira: que o Corpo e o
Sangue de Cristo sejam oferecidos a Deus. Portanto, embora eles admitam que o
verdadeiro corpo de Cristo está no altar, eles negam que esse verdadeiro Corpo
seja oferecido a Deus.
A segunda: que sobre o altar haja uma “hóstia” ou sacrifício
para expiação dos pecados [no latim, “hostiam” significa “vítima”], tanto dos
vivos como dos mortos.
Ambas as coisas são [aparentemente] baseadas na doutrina da
Epístola aos Hebreus, onde claramente parece que, pelos pecados do mundo, toda
a oferta do Corpo de Cristo, feita apenas uma vez na Cruz, é suficiente. Daí
concluem que, embora o culto ao Corpo de Cristo em memória da sua paixão e
morte tenha sido instituído pelo próprio Cristo, a oferta do seu Corpo como
hóstia pelo pecado é uma invenção humana, contrária aos textos da Sagrada
Escritura.
Terceiro capítulo —
Pela instituição de Cristo, a Eucaristia é imolada (Ex institutione Christi
Eucharistiam immolari)
Porém, nós, católicos, sabemos que nos textos sagrados está
registrada a imolação da Eucaristia. Os evangelistas, certamente (especialmente
São Lucas 22, e mais ainda São Paulo, em 1 Coríntios 11), nos dizem que, depois
de muitas outras coisas que Nosso Senhor Jesus Cristo fez no jantar, ele lhes
ordenou: “Fazei isto em minha memória”. Essas palavras, sendo de Jesus Cristo,
devem ser muito bem examinadas, tanto no pronome “isto”, quanto no verbo
“fazei”, bem como “em memória de mim”.
¶ Para entender o que é indicado pelo pronome “isto”,
deve-se examinar as palavras anteriores. O que precede é que Jesus tomou o pão,
deu graças, partiu-o, deu-o e disse: “Tomai e comei, isto é o meu Corpo, que se
partiu por vós”, ou segundo São Lucas, “é dado”. E imediatamente acrescentou:
“Fazei isto em minha memória”. Como o pronome “isto” não se limita a apontar
alguns e não apontar outros das coisas que precedem, segue-se que indica a
totalidade daquelas que precedem.
¶ A palavra “Fazei” contém muitos mistérios, pois [Cristo]
não diz: “Dizei isto”, mas “Fazei isto”, para apontar que o que é ordenado não
consiste em dizer mas em fazer, e que o “dizer” que aqui aparece não é “dizer”
algo, mas sim “fazer” algo; para que entendêssemos que as palavras da
consagração são palavras que produzem o que significam. Ao adicionar, “em
memória de mim”, ele distingue “fazer” de “comemorar”. Ele não disse mais
expressamente: “Comemore isso”, mas sim: “Fazei isto em minha memória”. Nosso
Senhor Jesus Cristo ordena que “isto”, i.e., tudo o que precede, seja feito em
memória dele. O que é ordenado é “faça isto” e que seja feito “para lembrar”
Nosso Senhor Jesus Cristo.
¶ Como nas palavras para fazer isso entende-se não apenas
“fazer” o Corpo de Cristo [i.e., consagrar a Eucaristia através das palavras e
dos atos de consagração], mas também “fazer” o Corpo de Cristo “que é partido
ou dado” por nós, é claro que Nosso Senhor Jesus Cristo nos ordenou que
“façamos” o seu corpo que por nós se rompe e se dá, como se dissesse: “Que se
imola por ti”, porque só se rompe e se dá assim que se rompe e se dá na cruz
(isto significa “ele se sacrifica”) por você. Portanto, “fazer” o meu Corpo que
se sacrifica por vós é o mesmo que fazer o meu Corpo na medida em que
se sacrifica por vós.
¶ Para você entender melhor o que dizemos, note que se Nosso
Senhor Jesus Cristo tivesse acrescentado as palavras “que é partido por vós” ou
“dado por vós” apenas para expressar a verdade [da presença] de seu Corpo,
teria sido suficiente dizer: “que você vê em minha pessoa”, ou algo assim. Mas
longe de Nosso Senhor Jesus Cristo uma linguagem imprecisa, porque, negado
isso, toda certeza é retirada das palavras. Isso seria se perder em meio a
infinitas possibilidades. Ao dizer, então, “que é partido ou dado por você”,
significa exatamente: “fazei [consagrai e oferecei] meu Corpo como ele é
oferecido por você, e fazei-o mesmo em memória de mim.”.
¶ “Fazer isto” em memória de Cristo é mais do que fazer o
Corpo de Cristo consagrando-o, porque é também fazer o Corpo de Cristo que é
dado e partido por nós. É também mais do que lembrar de Cristo, porque é fazer,
em memória de Cristo, o seu Corpo que por nós é dado e partido. Além disso,
dar-se e partir-se por nós é o mesmo que morrer por nós, já que doar-se
genericamente significa oferecer-se, e partir-se significa especificamente a
forma de se oferecer, ou seja, partindo-se: Ele se entregou a Deus na Cruz
através do partir de suas mãos, pés e lado por nós. Portanto, quando Nosso
Senhor Jesus Cristo ordenou “Fazei isto em memória de mim”, Ele ordenou: “Fazei
isto por meio da imolação em memória de mim”. Fazer “o Corpo de Cristo que se
imola” é fazê-lo imolando-o ou por meio da imolação, de modo que seja o Corpo
de Cristo enquanto é imolado. Se não fizermos essas duas coisas: 1ª) fazer o
Corpo de Cristo “consagrando-o”; e 2ª) “imolando” o que é dado e partido por
nós, não fazemos “o Corpo de Cristo na medida em que se imola”. A isso se
acrescenta outra coisa, a saber, 3ª) fazê-lo “em memória” de Jesus Cristo.
¶ Perceba, leitor prudente, o que foi feito na Ceia do
Senhor para que você entenda como corresponde instituição com instituição,
feito com feito e imolação com imolação. A ceia pascal, instituída em memória
da partida do Egito, consistia no ato de uma imolação, de modo que tal ceia era
a imolação do cordeiro pascal. Da mesma forma, Nosso Senhor Jesus Cristo, ao
terminar a imolação do cordeiro pascal, institui em si a nossa nova Páscoa,
quando se imola dizendo: “Este é o meu Corpo que vos é dado ou partido”, “Fazei
isto em memória de mim”. Como se dissesse verbalmente o que exprimia com o
facto da substituição: “Tal como até agora celebrastes a Páscoa em memória da
partida do Egito, doravante fazei isto em memória da minha imolação”. Como se
ele estivesse falando acerca da mesma substituição da velha Páscoa pela nova, e
dissesse: “Aquela Páscoa você fazia imolando-a em um jantar comunitário; agora
fazei isto imolando-o [o Cristo Eucarístico] em uma mesa comunitária em minha
memória”. Assim, pela mesma substituição da velha Páscoa pela nova, fica
implícito que quando ele diz: “Fazei isto em memória de mim”, ele quer dizer
que deve ser feito por meio da imolação, visto que na velha Páscoa era feito
deste modo.
¶ Que tal é o sentido autêntico deste mandamento é provado
pelos fatos relatados de São Paulo em 1 Coríntios 10. São Paulo lista entre as
coisas imoladas o pão santo e o cálice do Sangue de Cristo; ele trata nossa
mesa como um altar; e coloca aqueles que comem e bebem da mesa do Senhor como
aqueles que comem e bebem coisas que foram imoladas. Com isto fica claro, por
um lado, que os Apóstolos compreenderam o mandamento de Cristo “Fazei isto em
memória de mim” como [uma ordem a] fazer a Eucaristia imolando-a; por outro
lado, que na Igreja de Cristo, no tempo dos Apóstolos, a Eucaristia não era
apenas um sacramento, mas também um sacrifício; e, além disso, é considerada
como a imolação do Corpo e do Sangue do Senhor não só nos usos da Igreja e nos
livros dos Doutores, mas também na Sagrada Escritura.
As palavras do apóstolo são estas: “Fuja da adoração aos
ídolos. Já que falo com pessoas prudentes, julgue por si mesmo o que digo. O
cálice da bênção que abençoamos, não é a comunhão do Sangue de Cristo? O pão
que partimos não é a comunhão do Corpo de Cristo? Porque todos nós que
participamos do mesmo pão, embora muitos, nos tornamos um só pão, um só Corpo.
Considere a Israel segundo a carne; aqueles que comem das vítimas entre eles
não têm uma parte no altar? Quero dizer com isso que o ídolo ou o que é
sacrificado aos ídolos vale alguma coisa? Não, mas as coisas que os gentios
sacrificam, eles sacrificam para os demônios e não Deus. E eu não quero que
vocês tenham qualquer parceria com os demônios; Você não pode beber o cálice do
Senhor e o cálice dos demônios.” Isso é o que ele diz.
Com estas palavras fica claro que o Apóstolo coloca o “pão
que partimos” e o “cálice da bênção” na mesma categoria das vítimas de Israel e
das coisas sacrificadas aos demônios; que coloca a mesa do Senhor na mesma
categoria que o altar de Israel e a mesa dos demônios; e coloca aqueles que
comem da mesa do Senhor e bebem daquele cálice na mesma categoria daqueles que
participam das vítimas de Israel e comem coisas mortas para demônios. Com essas
razões, ele afirma que eles não podem tomar parte nas coisas sacrificadas a
Deus e aos demônios.
Se o pão e o cálice de Cristo não fossem sacrificados a
Deus, todos os argumentos de Paulo, tanto sobre as coisas sacrificadas ao
verdadeiro Deus por Israel e aos demônios pelos gentios, entrariam em colapso.
Mas seu testemunho de como o pão e o cálice de Cristo foram
imolados em seus dias é tão claro que dispensa explicação.
Quarto capítulo —
Pela instituição de Cristo, a Eucaristia é imolada para a remissão dos pecados
(Ex institutione Christi immolari Eucharistiam in remissionem peccatorum)
Com o mesmo mandamento de Nosso Senhor Jesus Cristo e
seguindo o mesmo procedimento, a outra coisa que os luteranos negam pode ser
facilmente refutada: que existe uma hóstia para a expiação dos pecados.
Em São Mateus 26,28, Nosso Senhor Jesus Cristo, tomando o
cálice, não apenas disse: “Este é o meu Sangue que será derramado por vocês”,
mas também acrescentou: “Para a remissão dos pecados”, e finalmente: “Fazei
isto em memória de mim.”
Assim, no mandamento: “Fazei isto”, inclui-se fazer o Sangue
de Cristo no cálice, imolando-o, não só enquanto se derrama, mas também
enquanto é derramado por muitos para a remissão de seus pecados. O que
exatamente essas palavras significam é que, assim como o derramamento de sangue
para a remissão dos pecados é a própria vítima cruenta pelos nossos pecados, da
mesma forma, fazer, como tal, o cálice [incruento do Sangue que é derramado
para a remissão dos pecados] é realizar o único imolar do cálice de Sangue,
assim que for derramado, para a remissão de pecados, enquanto realiza a mesma
remissão. Derramar para a remissão de pecados é fazer a mesma remissão até onde
for possível, independentemente do efeito. Portanto, não é uma invenção dos
homens, mas [serve] para compreender e obedecer ao mandamento divino não apenas
de oferecer o corpo e sangue de Cristo sob as espécies de pão e vinho em
memória de Nosso Senhor Jesus Cristo, mas também oferecê-los em expiação pelos
pecados. Além disso, o usual em todas as Igrejas [a saber, a ideia da imolação
de Cristo], não só latinas e gregas, mas também armênias, persas e outras
espalhadas pela terra, é a melhor interpretação desta lei, pois desde os tempos
antigos sempre a interpretaram dessa forma.
Quinto capítulo —
Objeções da Epístola aos Hebreus contra o Sacrifício da Missa (Obiectiones ex
Epistola ad Hebraeos contra sacrificium Missae)
Baseando-se em muitas passagens da Epístola aos Hebreus,
cap. 7 a 10 inclusive, os luteranos se levantam contra essas duas coisas
estabelecidas.
<Contra> a celebração diária da oferta da Eucaristia,
eles respondem com três argumentos.
Em primeiro lugar, por causa da multiplicidade de
sacerdotes. Pois, de acordo com esta epístola, a diferença entre Cristo, o
sacerdote do Novo Testamento, e o sacerdote do Antigo Testamento é que Cristo é
único, enquanto este último teve que se multiplicar, visto que Cristo é eterno,
enquanto este último era temporário. Portanto, é inconveniente afirmar no Novo
Testamento uma Hóstia para a qual um único sacerdote, Cristo, não é suficiente,
mas requer um sacerdote que suceda a outro segundo a sucessão temporal, como
vemos o que acontece com o sacrifício da Missa.
Em segundo lugar, por causa da repetição da oferta. Pois de
acordo com esta Epístola, a diferença entre o sacrifício do Antigo Testamento e
o do Novo consiste em que o primeiro era repetido todos os dias pelos
sacerdotes simples e todos os anos pelas mãos do Sumo Sacerdote; ao passo que
agora não se repete nem todos os dias nem todos os anos, mas é oferecido apenas
uma vez. Portanto, é inconveniente afirmar no Novo Testamento um sacrifício que
deve ser repetido com frequência.
Terceiro, por causa do que é oferecido. Pois de acordo com
esta Epístola, a diferença entre o sacrifício do Antigo Testamento e o do Novo
consiste em que então o sacerdote fazia uso do Sangue de cabras e outros
animais, enquanto agora Cristo ofereceu seu próprio Sangue apenas uma vez.
Portanto, é inconveniente dizer que Ele se ofereceu por nós
sob as espécies do pão e do vinho, visto que ofereceu a si mesmo mais do que o
suficiente uma vez.
<Contra> a Eucaristia ser uma hóstia para a expiação
dos pecados, eles também apresentam três argumentos.
Em primeiro lugar, por causa da reiteração, porque nesta
mesma Epístola a reiteração das Hóstias é atribuída à incapacidade das Hóstias
do Antigo Testamento de apagar os pecados. Se elas pudessem limpar os pecados,
elas teriam deixado de se oferecer: é por isso que no Novo Testamento a oferta
da Hóstia que tira os pecados não tem que ser repetida. Seria inconveniente,
então, afirmar no Novo Testamento uma hóstia para a remissão dos pecados que
deva ser repetida, como a Missa.
Segundo, por causa da suficiência do sacrifício de Cristo.
Porque Cristo, oferecendo-se na cruz com uma única oferta, consuma todos os que
se aproximam dele, etc. Portanto, adicionar no Novo Testamento outra Hóstia
para a remissão dos pecados seria cometer uma injúria contra a enorme
suficiência da hóstia de Cristo para todos os pecados do mundo.
Em terceiro lugar, por causa dos pecados perdoados, porque
(como indicado naquela epístola), onde não há mais pecados para expiar, uma
hóstia não é necessária para eles, mas já foram abolidos graças ao Novo
Testamento que permaneceu rubricado com a morte de Cristo. Portanto, no Novo
Testamento não há espaço para outra hóstia na remissão de pecados.
Sexto capítulo —
Resposta às objeções (Responsio ad obiecta)
O fundamento da verdade e da compreensão das várias
declarações da Sagrada Escritura sobre o sacrifício e o sacerdócio do Novo
Testamento é que há apenas uma Hóstia, que foi simplesmente e absolutamente
imolada em si mesma apenas uma vez pelo próprio Cristo, mas que sob certo
aspecto é imolada todos os dias por Cristo por meio dos ministros em sua
Igreja.
Portanto, no Novo Testamento há uma Hóstia cruenta e uma
Hóstia incruenta, mas confessamos que a Hóstia cruenta é Jesus Cristo oferecido
apenas uma vez no altar da Cruz pelos pecados de todo o mundo, e que a Hóstia
incruenta foi instituída por Cristo e é o seu Corpo e Sangue sob as espécies do
pão e do vinho, como indicam as citadas Escrituras. Na verdade, a hóstia
cruenta e a hóstia incruenta não são duas Hóstias, mas uma, porque o que é
Hóstia [vítima] é a mesma coisa [i.e., Cristo]. O Corpo de Cristo que está em
nosso altar não é diferente daquele oferecido na Cruz, nem o Sangue de Cristo
que está em nosso altar é diferente daquele derramado na Cruz.
O que é diferente é o modo de imolação desta única e mesma
Hóstia. Porque aquele caminho único, substancial e original era sangrento, já
que Cristo estava em sua própria figura, derramando seu Sangue na cruz quando
seu Corpo foi partido; ao passo que esta, quotidiana, externa e acessória, é um
caminho incruento, na medida em que, sob as espécies do pão e do vinho,
representa, a título de imolação, Cristo oferecido na Cruz. Por isso, no Novo
Testamento, a Hóstia cruenta e incruenta é única, tanto em termos da realidade
que se oferece como da forma como é oferecida, embora haja uma diferença, visto
que a última via — a imolação incruenta — não foi instituída como uma forma
diferente de imolar em si mesma, mas apenas em relação à hóstia cruenta da
Cruz. Isso é evidente para aqueles que entendem e compreendem que, se uma coisa
só existe em relação a outra, só existe uma coisa. Portanto, eu diria que não
se pode afirmar, propriamente falando, que no Novo Testamento há dois
sacrifícios ou duas hóstias ou duas oblações ou imolações (não importa o nome
que seja dado) pelo fato de haver a Hóstia cruenta de Cristo na Cruz e a Hóstia
incruenta de Cristo no altar. Só existe uma Hóstia oferecida uma única vez na
Cruz e que permanece, em forma de imolação, pela repetição diária de acordo com
o que Cristo instituiu na Eucaristia.
Em nosso altar, incorporamos a perduração da Hóstia que foi
oferecida na Cruz. Mas como que o que é oferecido na cruz e no altar é o mesmo
— visto que o que é oferecido na cruz e o que é oferecido no altar é o mesmo
Corpo de Cristo — é claro que a Hóstia no altar não é diferente daquela da
Cruz, mas aquela mesma Hóstia que foi oferecida apenas uma vez na Cruz perdura,
embora de outra forma, no altar, por Cristo: “Fazei isto em minha memória”. Se você
relacionar essas duas coisas, isto é: “Fazei isto” e “em minha memória”, você
vai perceber que aquela mesma e idêntica coisa que foi feita então faremos
novamente em memória de Cristo: aquilo que então se partiu e se derramou é o
que perdura sob as espécies de pão e vinho em memória de Cristo.
Depois do que foi dito, vamos esclarecer as objeções uma a
uma.
¶ Para a primeira, sobre a unidade do sacerdote. No Novo
Testamento há apenas um sacerdote, Cristo, e Ele mesmo é o sacerdote em nosso
altar, pois os ministros não consagram o Corpo e o Sangue de Cristo a título
pessoal, mas na pessoa de Cristo, como provam as palavras de consagração.
Então, eles O oferecem atuando nas vezes de Cristo. O sacerdote não diz: “Este
é o Corpo de Cristo”, mas antes: “Este é o meu Corpo”, fazendo — na pessoa de
Cristo, como Ele ordenou: “Fazei isto” — o Corpo de Cristo sob as espécies de
pão.
Quando somos respondidos que é inconveniente afirmar no Novo
Testamento uma Hóstia para a qual Cristo não é suficiente, mas precisa de outros
ministros para sucedê-lo, respondemos dizendo que afirmar uma Hóstia diferente
que requer uma sucessão de sacerdotes não é o mesmo que afirmar a permanência
da mesma Hóstia oferecida na Cruz, exigindo uma sucessão de ministros. O
primeiro não se adequaria ao estado do Novo Testamento; enquanto a segunda está
de acordo com ela, ou seja, que permanece em vigor a única vítima que foi
oferecida apenas uma vez.
¶ À segunda, sobre a repetição, dizemos que no Novo
Testamento o sacrifício ou oferta não se repete, mas que o único sacrifício que
foi oferecido uma vez permanece [em nossos altares], na forma de imolação. A
repetição ocorre apenas no modo de perdurar, não na coisa em si que é
oferecida. Além disso, o mesmo modo que se repete não concorre com o sacrifício
por si só, mas [existe] para comemorar a oferta na Cruz de uma forma incruenta.
Tal repetição não contradiz a doutrina da Epístola aos
Hebreus, como é provado por aquelas palavras que dizem que se o sacrifício do
Novo Testamento fosse repetido, seria necessário que Cristo sofresse várias
vezes. É claro que essas palavras se referem à repetição do sacrifício
[cruento] e não à repetição desta forma instituída por Nosso Senhor Jesus
Cristo.
¶ À terceira, que se refere ao que é oferecido, dizemos que
ao fato de que Cristo uma vez derramou seu próprio Sangue, de maneira mais que
suficiente e abundante, convém a ele permanecer na Sagrada Eucaristia, em forma
de imolação daquele único e suficiente derrame de sangue na Cruz.
¶ Respondendo à primeira das objeções contrárias à
Eucaristia na medida em que é uma hóstia pelos pecados, concordamos em dizer
que no Antigo Testamento a reiteração da hóstia foi decretada por causa de sua
impotência para apagar os pecados. Com o que nos é respondido, [a saber] que é
inconveniente dizer que no Novo Testamento as hóstias devem ser multiplicadas
pelos pecados, se fala-se propriamente, concordamos em tudo, porque na Missa a
Hóstia não se multiplica, mas, em cada Missa, a mesma Hóstia que foi oferecida
na cruz e que permanece na forma de imolação é comemorada novamente.
¶ À segunda, dizemos que é estranho ao espírito dos fiéis
até mesmo pensar que a Missa é celebrada para complementar a eficácia da Hóstia
que foi oferecida na Cruz. A Missa é celebrada como um veículo para a remissão
dos pecados que Cristo obteve para nós na Cruz, de tal forma que, assim como
não existe outra Hóstia, nenhuma outra pode nos alcançar a remissão dos
pecados. Do mesmo modo que Cristo “entrou nos céus por seu próprio Sangue” e
segue sendo “sacerdote por toda eternidade para interceder por nós” (como está
escrito na epístola mencionada), também segue estando conosco através da
Eucaristia, através da imolação, para interceder por nós. Assim como a máxima
suficiência e eficácia do sacrifício no altar da Cruz não exclui que Cristo
está no céu cumprindo seu ofício de intercessão por nós, tampouco exclui sua
permanência entre nós por meio da imolação, para interceder por nós. Da mesma
forma que a intercessão contínua de Cristo no céu por nós não anula a única
intercessão de sua morte, tampouco — e menos ainda — anula sua permanência no
caminho da imolação para interceder por nós e nos fazer participar do remissão
dos pecados realizada no altar da cruz, quando sua intercessão é realizada
através do mistério que está oculto sob as espécies do pão e do vinho (o do céu
se realiza por meio de Cristo na mesma figura em que foi crucificado) .
Desse modo, se houvesse margem para qualquer derrogação, o
fato de Cristo, depois de sua morte, interceder sob sua própria figura iria
derrogar mais da única intercessão de sua morte do que fazê-la sob outra
aparência, visto que a primeira intercessão supõe uma espécie de intercessão
suplementar, enquanto esta segunda apenas supõe um modo cerimonial de
intercessão que está mais de acordo conosco.
¶ À terceira dizemos que, com uma pitada de sal, deve-se
entender que nossos pecados foram perdoados pela morte de Cristo, isto é, pela
morte de Cristo que nos é aplicada por meio dos sacramentos que Ele instituiu.
Nisto todos os cristãos concordam.
Entre os sacramentos instituídos por Cristo está o da
Eucaristia, instituído por Cristo como uma imolação. É o que declaram as
próprias palavras de Cristo e de São Paulo. Se, depois de terem recebido o
Baptismo, há cristãos que precisam do perdão dos seus pecados, a Hóstia da
Eucaristia pode ser usada para os perdoar, aplicando-lhes a eficácia da morte
de Cristo; e se eles não precisam ter seus pecados perdoados, serve para o
alimento da alma, bem como comida e bebida do corpo. Embora o sacramento da
Eucaristia tenha sido instituído como uma imolação para aplicar àqueles que o
celebram a expiação dos pecados feita pela cruz de Cristo, não foi instituído
apenas para esta, mas também para outros bens da alma.
¶ Consequentemente, o Sacrifício da Missa, que a Igreja
celebra segundo o ensinamento de Cristo e dos Apóstolos, está de acordo com
tudo o que está escrito na Epístola aos Hebreus. E isto admitindo a extensão
dos termos à Hóstia da Eucaristia, pois sei que segundo o seu sentido genuíno,
o Autor daquela Epístola trata dos sacrifícios de sangue, demonstrando a
excelência do sacrifício cruento — que Cristo ofereceu ao instituir o Novo
Testamento — em relação a todos os sacrifícios do Antigo Testamento. Mas parece
que é conveniente admitir essa extensão para que a verdade católica seja clara.
Dado em Roma, em 3 de maio de 1531.
Tratado do Sacrifício da Missa, editado pelo Revmo. Tomás de Vio Caetano, Cardeal de São Sisto.
Tradução feita por Villian Cuauhtlatoatzin.
Publicado originariamente em: <https://medium.com/@villianhs/sobre-o-sacrif%C3%ADcio-da-missa-e-seu-rito-contra-os-luteranos-cardeal-tom%C3%A1s-caetano-bd05ba014a30>.
terça-feira, 12 de abril de 2022
SAUDAÇÕES AFETUOSAS AO PRODIGIOSO SANTO ANTÔNIO
domingo, 10 de abril de 2022
OS SUPOSTOS IRMÃOS DE JESUS [1]
A publicação de hoje é em homenagem a uma amiga do apostolado, católica fervorosa e devotíssima de Nossa Senhora de Fátima. Nascida em 13 de Maio, essa grande amiga deixará saudades. Que Nossa Senhora a acolha na luz beatífica. Descanse em paz.
Uma objeção que os amigos protestantes fazem contra a
virgindade da Mãe de Jesus é afirmar que ela teve outros filhos, além de Jesus.
Estando este argumento intimamente ligado à imaculada
conceição, quero trata-lo aqui separadamente, embora não figure nos números do desafio[2].
Maria SS. teve ela outros filhos, depois do nascimento de
Jesus? Resolvamos a questão de um modo irrefutável.
Para dar a esta objeção uma aparência de verdade, escolheram
no Evangelho umas passagens que falam de tais irmãos, sem compreenderem a significação das palavras, e sem
conhecerem os costumes dos judeus desses tempos remotos.
Em diversos lugares o Evangelho fala desses irmãos. Assim S. Mateus, S. Marcos e S.
Lucas referem que estando Jesus a falar,
disse-lhes alguém: eis que estão lá fora tua mãe e teus irmãos que querem
ver-te (Mt 12, 46-47; Mc 3, 31-32; Lc 8, 19-20).
S. João, por sua vez, fala de tais irmãos (Jo 7, 1-10).
Ao ler estes passos, os amigos biblistas, que só enxergam palavras, e não sentidos, concluem imediatamente: A Bíblia fala de irmãos de Jesus,
então Maria teve outros filhos e não é pura, nem virgem, como dizem os
católicos.
Bela objeção, que mostra a supina ignorância dos biblistas.
A invenção não é nova. Foi o herege Elpídio que, no século IV, moveu tal
objeção, e foi S. Jerônimo que a refutou pela primeira vez.
I.
Exemplos
da Bíblia
Se os protestantes compreendessem um pouco a linguagem bíblica,
ou soubessem, pelo menos, confrontar certas expressões, veriam logo que entre
os judeus, -- como ainda hoje certos países e línguas, -- se chamam com o nome
de irmãos não só os nascidos do mesmo
pai e da mesma mãe, mas também os parentes próximos.
As línguas hebraica e aramaica não possuem palavra que
traduza o nosso “primo ou prima”, e servem-se da palavra “irmão ou
irmã”.
A palavra hebraica ha,
e a aramaica aha, são empregadas para
designar irmãos ou irmãs do mesmo pai, não da mesma mãe (Gn
37, 16; 42, 15; 43, 5; 12, 8-14; 39, 15), sobrinhos, primos irmãos (1 Cr 23,
21), e primos segundo (Lv 10, 4) – e até parentes
em geral (Jó 19, 13-14; 42, 11).
Os passos acima provam que a palavra irmão era uma expressão
genérica, geral.
Jesus, tendo pois primos, não havia outra palavra em
aramaico senão “irmão” para exprimir
o parentesco.
Há muitos exemplos na bíblia. Lê-se no Genesis que Taré era pai de Abraão e de Harão, e que
Harão gerou Lot (Gn 11, 27), que, por conseguinte, vinha a ser sobrinho de
Abraão.
Contudo no mesmo Gênesis, mais adiante, chama a Lot irmão de Abraão (Gn 13, 8)[3]. Disse Abraão a Lot: nós somos irmãos (Gn
14, 14). – Ouvindo pois Abraão que seu
irmão (Lot) estava preso, armou os
criados, etc.
Da mesma forma Jacob era sobrinho
de Labão como se deduz também do Gênesis, que afirma ser Jacob filho da irmã de
Labão: Ouvindo Labão as novas de sua
irmã, correu-lhe ao encontro, etc. (Gn 24, 13).
Pois bem, ainda uma vez o Gênesis, dois versículos mais
adiante, põe na boca de Labão estas palavras dirigidas ao sobrinho Jacob: Então porque
tu és meu irmão, hás de servir-me de graça? (Gn 29, 15).
Tobias, o moço, era primo
de Sara; Pois Tobias, o velho, pai do moço, e Raquel, pai de Sara, eram irmãos:
Disse Raquel: conheceis Tobias, meu
irmão? Etc. (Tob 7, 4-5). – Ora, o jovem Tobias dirigindo-se a Deus: Senhor, sabes que não é por motivo de
luxúria que recebo por mulher esta minha irmã (Tob 7, 4-6). Os protestantes
rasgaram este livro de Tobias.
Eis diversos passos que provam que a palavra irmão, na linguagem da Bíblia,
significa, não somente irmãos, no
sentido da nossa palavra, mas sim primos,
sobrinhos, até ao terceiro grau.
II.
Evangelho
na mão
Vamos examinar a questão de perto e ver, pelas próprias
palavras do Evangelho, que tais irmãos
de Jesus são simplesmente seus primos.
Estes supostos irmãos são indicados por S. Marcos: Não é este o carpinteiro, filho de Maria e
irmão de Tiago, e de José, e de Judas e de Simão e não estão aqui conosco suas
irmãs?[Mc 6, 3].
Jesus tem pois irmãos
e irmãs. Não são irmãos
consanguíneos, mas sim irmãos primos
segundos, como o explica o próprio Evangelho.
Vejamos: O tal Tiago e
Judas em vez de serem filhos de Maria SS. são filhos de Alfeu ou Cléofas. É
S. Lucas que no-lo afirma: Chamou Tiago,
filho de Alfeu... e Judas, irmão de
Tiago (Lc 6, 15-16). – E ainda: chamou
Judas, irmão de Tiago (Lc 6, 16).
Quanto a José, S.
Mateus diz que é irmão de Tiago: Entre os
quais estava... Maria, mãe de Tiago e
de José (Mt 27, 56).
Eis agora Simão chamado irmão dos três outros. Tiago, José, Judas e Simão (Mc 6, 3).
Estes quatro supostos irmãos de Jesus
são, pois, verdadeiramente irmãos entre
si, filhos do mesmo pai e da mesma mãe.
Falta agora só descobrir o nome dos seus pais. O Evangelho
os indica: Chamou... Tiago, filho de Alfeu (Lc 6, 15). Alfeu
ou Cléofas é, pois, o pai de Tiago e, em consequência, dos irmãos de Tiago, que
são os três outros citados.
Conhecemos o pai. Procuremos agora a mãe deles. Conhecendo a
mãe de um, é conhecida a mãe de todos, visto serem irmãos. Ora, o Evangelho é
explicito: Entre as quais estavam Maria
Madalena e Maria, mãe de Tiago (Mt 27, 56).
Eis o mistério esclarecido: Tiago, José, Judas e Simão, tais
pretensos irmãos de Jesus, são
simplesmente filhos de Alfeu (Cléofas) e Maria (Cléofas), primos de Jesus, como indica o quadro que segue.
Os pobres protestantes confundem tudo... e não enxergam que
tal Maria Cléofas é completamente distinta de Maria Santíssima, como faz notar
o evangelista: Junto à Cruz de Jesus estava sua mãe e a irmã (prima) de sua
Mãe, Maria, mulher de Cléofas (Jo
19, 25).
III.
Um
dilema sem saída
Eis os pobres protestantes num dilema sem saída, e em
flagrante contradição com o evangelho. Se tais irmãos são verdadeiramente irmãos consanguíneos de Jesus, é preciso
concluir que Jesus não é filho de Maria SS., mas, sim, de Maria Cléofas e
Alfeu.
Então Maria SS. não é mais Mãe de Deus, mãe de Jesus. Ora, o
evangelho diz: Jacob gerou a José, esposo
de Maria, da qual nasceu Jesus, que se chama o Cristo (Mt 1, 16). Jesus é filho de Maria SS. É claro e formal.
Maria SS. era esposa de S. José: de novo é claro e positivo.
Mas, então, ó protestantes, como combinar estes passos do
Evangelho? Um filho pode ter dois pais e duas mães? Jesus é filho de Maria SS.,
que era esposa de José. Tiago, José, Judas e Simão são filhos de Maria Cléofas
e de Alfeu.
E tendes a coragem de dizer que estes últimos são irmãos de
Jesus e filhos de Maria Santíssima!!!
É muita ignorância, ou então muita perfídia...
Procurai sair deste dilema! Ou o Evangelho mente ou vós
caluniais descaradamente. E como o Evangelho é a palavra de Deus, infalível e
certa, devemos concluir necessariamente que vós mentis e caluniais... ou que
sois ignorantes obcecados,
desconhecendo o que atacais e ignorando o que pretendes ensinar aos outros. O
dilema é humilhante, irrefutável.
IV.
Genealogia
de Jesus
Para poupar-vos, no futuro, erros tão grosseiros e
ajudar-vos a compreender um pouco a Bíblia, cuja letra estudais sem penetrar
até ao espírito que a anima, traço aqui a árvore genealógica de Jesus, baseada
sobre a Sagrada Escritura, que vos mostrará clara e insofismavelmente toda a
família de Jesus Cristo.
Por esta árvore vereis que os tais irmãos de Jesus, por serem filhos de Cléofas, que é irmão de S.
José, e por consequência seus sobrinhos
legítimos, são simplesmente primos segundos de Jesus, no mesmo grau que S.
Tiago maior, S. João Evangelista e S. João Batista.
Falando destes outros, o Evangelho não os chama pessoalmente
irmãos de Jesus. A razão é que os
filhos de Cléofas, como sobrinhos de S. José, esposo de Maria SS., e ao mesmo
tempo primos de Jesus pela descendência do pai, têm para com Jesus um duplo
parentesco: Pelo pai e pelo tio, S. José.
Os quatro primeiros são irmãos de Jesus; os outros quatro são seus irmãos parentes. Eis o que claramente
resulta dos textos do Evangelho.
A seguinte árvore genealógica elucidará perfeitamente a
questão, e dissipará qualquer dúvida.
MATAN |
||||
Pai de |
||||
MARIA |
SOBÉ |
ANA |
JACOB |
|
Mãe
de |
Mãe
de |
Mãe
de |
Pai
de |
|
SALOMÉ mulher de Zebedeu |
S. ISABEL mulher de Zacarias |
VIRGEM MARIA |
CLÉOFAS esposo de Maria Salomé |
S. JOSÉ esposo de Maria |
Mãe
de |
Mãe
de |
Mãe de |
Pai
de |
|
S. TIAGO MAIOR, S. JOÃO EVANGELISTA |
S. JOÃO BATISTA |
JESUS CRISTO |
S. TIAGO MENOR, JOSÉ, JUDAS, SIMÃO,
SALOMÉ E MARIA |
|
V.
Jesus,
Filho Unigênito
É pois claro e bem provado, pelo próprio evangelho, que
Maria SS. nunca teve outros filhos além de Jesus. Pura e Imaculada, a Mãe de
Jesus nunca conheceu varão (LC 1, 34)
e o filho de Deus que nasceu dela por
obra do Espírito Santo (LC 1, 45) é o seu filho primogênito e unigênito,
como diz o evangelho, em alusão à lei judaica.
Uma outra e decisiva prova encontra-se nas últimas palavra
de Jesus na cruz, remetendo a sua mãe ao desvelo de S. João. Se Maria SS.
tivesse tido outros filhos, Jesus a teria recomendado a um destes filhos, em
vez de remetê-la nas mãos de um primo segundo. Jesus não teve irmãos, nem mais
velhos nem mais novos. Toda a sua infância, a ida a Jerusalém, na idade de 12
anos, a vida em Nazaré, mostram claramente que a sagrada família nunca
ultrapassou três membros: Jesus, Maria e José.
O evangelista S. Marcos chama Jesus O filho de Maria (Mc 6, 3) e não filho de Maria; o que supõe que Jesus fosse o filho único da viúva.
Tais apelações de fato, diz o próprio Renan (Evang., Paris, p. 542), não se
empregam senão quando o pai é falecido, e que a viúva não tem outros filhos.
Em parte nenhuma os tais supostos irmãos de Jesus partilham
com ele este apelido de “filho de Maria”.
Maria SS. não teve, pois, nem mesmo podia ter, nenhum outro
filho, além de Jesus.
Ela amava extremamente todas as virtudes, mas dum modo
particular a rainha das virtudes, que
é a virgindade.
Quando todas as donzelas de Israel ardentemente desejavam
casar-se, na esperança de terem parte no nascimento do Messias, ela prometeu a
Deus guardar perpetuamente a sua virgindade. Ela só aceitou a maternidade
divina depois de ter-se certificado de que tal privilégio não contrariava a sua
virgindade.
Ela casou-se com S. José, porque sabia que ele era um homem justo, que tinha feito a Deus
solene promessa de perpetuamente guardar a sua virgindade.
O Evangelista nos assevera que S. José não conheceu Maria,
durante todo o tempo em que ele ignorou o mistério da Encarnação. Como poderia
ele desrespeitá-la, depois que o Verbo divino se encarnou e se fez homem em seu
puríssimo seio?
É, pois, bem claro que Maria SS. não teve filhos com S.
José.
VI.
Uma
conclusão horrível
Mas então quem é o pai desses seus outros filhos, além de
Jesus? Ainda ninguém o disse, nem nunca será capaz de dizê-lo.
Mistério incompreensível! Jesus espantou o mundo inteiro por
seu saber, por seu poder, por suas virtudes; e tem irmãos e ninguém sabe quem é
o pai de seus irmãos!
Maria SS. é notoriamente reconhecida como verdadeira mãe
deste homem extraordinário, portentoso e santo; e ela comete um revoltante escândalo, e ninguém sabe
quem é o cúmplice deste horroroso crime.
Pobre e infelizes protestantes, não compreendem que dizer
que Maria SS. teve outros filhos além de Jesus é qualifica-la de impura,
desonesta, de corrupta, adúltera! Oh! Quanto esta injúria, este insulto, esta
calúnia deve magoar e ofender a Virgem Santa, tão extremosa amante da pobreza!
Como deve ofender a Jesus, tão sensível à honra de sua progenitora!
Pobres protestantes, refleti um instante e compreendei enfim
o que vos dita a consciência, o bom senso e a própria Bíblia, que dizeis ser a
regra da vossa crença, e deixai de fechar os olhos à luz refulgente da doutrina católica.
Observações do apostolado:
1) Em acréscimo
ao maravilhoso texto do Pe. Júlio Maria de Lombaerde, diga-se que quando se diz
de Tiago, irmão do Senhor (Gl 1, 19),
se está referindo a S. Tiago menor,
irmão de Judas, José e Simão. Isto porque S. Paulo diz que dos outros Apóstolos não vi nenhum, senão Tiago, irmão do Senhor
(Gl 1, 19).
Ora, havia dentre os Apóstolos dois Tiagos, um era filho de
Zebedeu e o outro era filho de Alfeu (Mc 3, 16-19). Não havia outro Tiago que
fosse Apóstolo. Prova disso, aliás, é que um é chamado de o Menor (Mc 15, 40) em oposição ao outro, o Maior. Portanto, S. Paulo não se referia a outro que não fosse o Tiago
irmão do Senhor, conforme dito por S. Marcos (6, 3), que, como vimos, é primo de Jesus.
2) Qual não foi a
nossa surpresa, ao consultarmos a tradução de João Ferreira de Almeida,
comumente utilizada pelo protestantes, notamos o seguinte: Disse Abrão a Ló: Não haja contenda entre mim e ti e entre os meus
pastores e os teus pastores, porque somos parentes
chegados (Gn 13, 8).
A tradução católica do Pe. Matos Soares, por sua vez: Disse, pois, Abrão a Loth: peço-te que não
haja contendas entre mim e ti, nem entre os meus pastores e os teus pastores,
porque somos irmãos (Gn 13, 8).
No mesmo sentido a tradução da Bíblia de Jerusalém: pois somos irmãos (Gn
13, 8).
Também a tradução da Ave Maria: Abrão disse a Ló: “Rogo-te que não haja discórdia entre mim e ti, nem
entre nossos pastores, pois somos irmãos...
Como se percebe, a tradução do padre apóstata João Ferreira de
Almeida destoa do hebraico, talvez por tentar explicar que Abrão e Lot eram, na
verdade, tio e sobrinho, talvez por tentar encobrir o uso do termo irmão para
designar parentes próximos no hebraico. Seja como for, a tradução correta é irmãos e não parentes chegados.
Pois bem, vejamos o que diz o hebraico em Gn 13, 8:
וַיֹּאמֶר אַבְרָם אֶל-לוֹט אַל-נָא תְהִי
TËHY AL-NÅ EL-LOT AVËRÅM VAYOMER
מְרִיבָה בֵּינִי וּבֵינֶיךָ וּבֵין רֹעַי
ROAY UVEYN UVEYNEYKHA BEYNY MËRYVÅH
:וּבֵין רֹעֶיךָ כִּי-אֲנָשִׁים אַחִים :אֲנָחְנוּ
ANÅCHËNU: ACHYM KY-ANÅSHYM ROEYKHA UVEYN
O termo אַחִים, transliterado: ACHYM, quer dizer irmão.
Já em Gn 14,
14, o termo utilizado é אָחִיו, transliterado: ÅCHYV, que quer dizer
também irmão, parente, etc.
João Ferreira traduziu este último versículo por sobrinho. O homem não quis dar o braço a torcer. O Pe. Matos Soares o traduziu
por irmão.
Mas para não restar dúvida de que a palavra irmão era utilizada
indiferentemente para designar seja um irmão por natureza seja um parente,
vejam-se os seguintes exemplos:
Em Gn 24, 15 se diz que Nacor,
irmão de Abraão... A palavra
utilizada é אָחִי, transliteração: ACHY = irmão. E Nacor era irmão por
natureza, ou consanguíneo, de Abraão, conforme Gn 11, 27.
Em Gn 24, 29 se diz que Rebeca
tinha um irmão, chamado Labão...
A palavra é אָח, cuja transliteração é ÅCH = irmão. Rebeca e Labão eram irmãos consanguíneos.
Já em Gn 29, 14-15 se diz: E, tendo passado Jacob um mês inteiro com Labão, disse-lhe este: Acaso, porque é meu irmão, me servirás de graça? A palavra utilizada é אָחִי, transliteração: ÅCHY = irmão. No entanto, Labão era irmão de Rebeca, filho de Batuel, e este era filho de Melca e Nacor (Gn 22, 20-23). Este último era irmão de Abraão. Jacó, por sua vez, era filho de Issac e neto de Abraão. Portanto, Jacó e Labão eram primos distantes, não irmãos. Mas a palavra hebraica utilizada é a mesma.
Assim, caro protestante apressadinho, não alegue que na sua bíblia são utilizadas palavras diferentes: irmão, sobrinho, parentes chegados..., pois essas distinções são do português, não do hebraico[4].
[1]
Extraído do livro Luz nas Trevas –
Respostas irrefutáveis às objeções protestantes, do Pe. Júlio Maria de
Lombaerde.
[2]
O Pe. Júlio Maria estava respondendo a alguns desafios propostos pelos
protestantes. Este opúsculo segue-se ao que respondia cabalmente à objeção
protestante contra a Imaculada Conceição.
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