Expusemos em outro escrito o que é o vocativo. Mas para que o leitor compreenda melhor e aprenda de fato a utilizar o vocativo, desta vez oferecemos menos teoria e mais exemplos do uso desta importante função sintática da língua portuguesa.
Iniciaremos dando multidão de exemplos de uso correto do vocativo. Neles, preste atenção o leitor i) na posição do vocativo com respeito à oração (no início, intercalado ou no final da oração); ii) na vírgula obrigatória que separa o vocativo da oração; e iii) nas palavras que exercem a função de vocativo, as quais podem ser tanto nome como grupo nominal apelativo.
Dispondo o leitor da régua capaz de medir o erro no uso do vocativo, passaremos então a dar exemplos reais de seu uso incorreto. Neles, poderá o leitor exercitar o que aprendeu, reescrevendo as frases corretamente.
Por fim, demonstraremos, ainda por meio de exemplos, como o mau uso do vocativo pode fazer que a língua não alcance seu fim, isto é, significar nossas concepções mentais e comunicá-las aos demais, o que implica em compreensibilidade geral.
A. Uso correto do vocativo:
* “Meu divino Salvador, bastaria sem dúvida que ficásseis neste sacramento (...)” (Santo Afonso de Ligório, Visitas a Jesus Sacramentado e a Nossa Senhora);
* “Meus Jesus, eu quero contentar-vos: consagro-vos, pois, toda a minha vontade (...)” (Santo Afonso de Ligório, op. cit.);
* “Mas, Senhor, quem ousará aproximar-se para se alimentar da vossa carne?” (Santo Afonso, op. cit.);
* “Vinde, pois, meu Jesus, vinde;” (Santo Afonso, op. cit.);
* “Sob a vossa proteção nos acolhemos, santa Mãe de Deus.” (Santo Afonso, op. cit.);
* “(...) e a vós bendigo, ó paciência infinita do meu Deus, que tantos anos me tendes suportado.” (Santo Afonso, op. cit.);
* “Fica, Jesus, comigo porque nesta noite de vida e de perigos preciso de Ti.” (P. Pio, Ação de Graças para depois da Comunhão);
* “Das profundezas do abismo, clamo a Vós, Senhor! Senhor, escutai a minha voz.” (Salmo 129);
* “Lembrai-vos, ó piedosíssima Virgem Maria, que nunca se ouviu dizer (...)” (São Bernardo, Lembrai-vos);
* “Recebei, ó Trindade Santa, esta oblação que Vos oferecemos (...)” (Ordinário da Missa - Ofertório);
* “Santo Antônio, que ressuscitais os mortos (...)” (Coiroinha de Santo Antônio);
* “Grande Santo Antônio, apóstolo cheio de bondade (...)” (Oração a Santo Antônio para Achar as Coisas Perdidas);
* “Ó animal, em virtude e em nome do teu Criador que eu, embora (...)” (Santo Antônio, Milagre da Mula);
* “Ouvi a palavra de Deus, vós, peixes do rio, pois que os hereges desdenham ouvi-la.” (Santo Antônio, Milagre dos Peixes).
B. Uso incorreto do vocativo:
* “Ocorre Excelência que não foi concedida (...)” (petição feita por advogado e disponibilizada em site jurídico conhecido);
[Obs.: neste caso, o vocativo Excelência deveria vir entre vírgulas: “Ocorre, Excelência, que...”. Nos exemplos abaixo, aponte o leitor o erro:]
* “Obrigado meu amigo!” (mensagem em grupo de advogados em rede social);
* “Bom dia colegas.” (mensagem em grupo de advogados em rede social);
* “Bom dia combatente.” (mensagem do perfil oficial do Exército em rede social);
* “‘Não senhora, você vai pra sala!’” (trecho de questão relativa a regência verbal, da banca FUNDEP, ano 2019, Prefeitura de Uberlândia-MG);
O erro no uso do vocativo, de tão comum, se estende desde o Exército até os examinadores de língua portuguesa (!), passando por advogados, por magistrados, por professores universitários, etc.
C. Importância do vocativo para distinguir o sentido do que se quer dizer:
* Santo Antônio, socorre os doentes!; (dirijo-me a Santo Antônio)
* Santo Antônio socorre os doentes!; (falo de Santo Antônio)
* José, quer jantar?; (dirijo-me a José)
* José quer jantar.; (falo de José)
* Aquele juiz é corrupto.; (falo do juiz)
* Aquele, juiz, é corrupto.; (dirijo-me ao juiz)
* Viste o professor Carlos? (pergunto sobre o professor Carlos)
* Viste o professor, Carlos? (dirijo-me a Carlos)
Willian Mitre
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