domingo, 17 de março de 2024

O uso do vocativo em exemplos


Expusemos em outro escrito o que é o vocativo. Mas para que o leitor compreenda melhor e aprenda de fato a utilizar o vocativo, desta vez oferecemos menos teoria e mais exemplos do uso desta importante função sintática da língua portuguesa.

 

Iniciaremos dando multidão de exemplos de uso correto do vocativo. Neles, preste atenção o leitor i) na posição do vocativo com respeito à oração (no início, intercalado ou no final da oração); ii) na vírgula obrigatória que separa o vocativo da oração; e iii) nas palavras que exercem a função de vocativo, as quais podem ser tanto nome como grupo nominal apelativo. 

Dispondo o leitor da régua capaz de medir o erro no uso do vocativo, passaremos então a dar exemplos reais de seu uso incorreto. Neles, poderá o leitor exercitar o que aprendeu, reescrevendo as frases corretamente.

Por fim, demonstraremos, ainda por meio de exemplos, como o mau uso do vocativo pode fazer que a língua não alcance seu fim, isto é, significar nossas concepções mentais e comunicá-las aos demais, o que implica em compreensibilidade geral.

 

A. Uso correto do vocativo:

 

* “Meu divino Salvador, bastaria sem dúvida que ficásseis neste sacramento (...)” (Santo Afonso de Ligório, Visitas a Jesus Sacramentado e a Nossa Senhora);

* “Meus Jesus, eu quero contentar-vos: consagro-vos, pois, toda a minha vontade (...)” (Santo Afonso de Ligório, op. cit.);

* “Mas, Senhor, quem ousará aproximar-se para se alimentar da vossa carne?” (Santo Afonso, op. cit.);

* “Vinde, pois, meu Jesus, vinde;” (Santo Afonso, op. cit.);

* “Sob a vossa proteção nos acolhemos, santa Mãe de Deus.” (Santo Afonso, op. cit.);

* “(...) e a vós bendigo, ó paciência infinita do meu Deus, que tantos anos me tendes suportado.” (Santo Afonso, op. cit.);

* “Fica, Jesus, comigo porque nesta noite de vida e de perigos preciso de Ti.” (P. Pio, Ação de Graças para depois da Comunhão);

* “Das profundezas do abismo, clamo a Vós, Senhor! Senhor, escutai a minha voz.” (Salmo 129);

* “Lembrai-vos, ó piedosíssima Virgem Maria, que nunca se ouviu dizer (...)” (São Bernardo, Lembrai-vos);

* “Recebei, ó Trindade Santa, esta oblação que Vos oferecemos (...)” (Ordinário da Missa - Ofertório);

* “Santo Antônio, que ressuscitais os mortos (...)” (Coiroinha de Santo Antônio);

* “Grande Santo Antônio, apóstolo cheio de bondade (...)” (Oração a Santo Antônio para Achar as Coisas Perdidas);

* “Ó animal, em virtude e em nome do teu Criador que eu, embora (...)” (Santo Antônio, Milagre da Mula);

* “Ouvi a palavra de Deus, vós, peixes do rio, pois que os hereges desdenham ouvi-la.” (Santo Antônio, Milagre dos Peixes).

  

B. Uso incorreto do vocativo:


* “Ocorre Excelência que não foi concedida (...)” (petição feita por advogado e disponibilizada em site jurídico conhecido);

[Obs.: neste caso, o vocativo Excelência deveria vir entre vírgulas: “Ocorre, Excelência, que...”. Nos exemplos abaixo, aponte o leitor o erro:]

* “Obrigado meu amigo!” (mensagem em grupo de advogados em rede social);

* “Bom dia colegas.” (mensagem em grupo de advogados em rede social);

* “Bom dia combatente.” (mensagem do perfil oficial do Exército em rede social);

* “‘Não senhora, você vai pra sala!’” (trecho de questão relativa a regência verbal, da banca FUNDEP, ano 2019, Prefeitura de Uberlândia-MG);

 

O erro no uso do vocativo, de tão comum, se estende desde o Exército até os examinadores de língua portuguesa (!), passando por advogados, por magistrados, por professores universitários, etc.

 

C. Importância do vocativo para distinguir o sentido do que se quer dizer:


Note o leitor pelos exemplos abaixo como é fácil distinguir e usar o vocativo: ele é sempre empregado para chamar, interpelar, digigir-se ou a alguém ou a animal ou a coisa personificada. 


* Santo Antônio, socorre os doentes!; (dirijo-me a Santo Antônio)

* Santo Antônio socorre os doentes!; (falo de Santo Antônio)

 

* José, quer jantar?; (dirijo-me a José)

* José quer jantar.; (falo de José)

 

* Aquele juiz é corrupto.; (falo do juiz)

* Aquele, juiz, é corrupto.; (dirijo-me ao juiz)

 

* Viste o professor Carlos? (pergunto sobre o professor Carlos)

* Viste o professor, Carlos? (dirijo-me a Carlos)

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Willian Mitre

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