Por Willian Mitre
São intermináveis as objeções protestantes contra o que a Igreja ensina sobre o batismo: negam os efeitos do batismo, sua forma, sua importância; negam o batismo de crianças; impõem o rebatismo, etc.
Mas como são muitas as divisões existentes dentro da mesma heresia protestante, não é tarefa fácil reunir as principais objeções, uma vez que nem os próprios protestantes se entendem. Assim, tratar-se-á neste pequeno opúsculo, de modo geral, a doutrina da Igreja (isto é, a doutrina de Cristo e dos Apóstolos) sobre o batismo, com o fim de mostrar que tudo o que ensina a Santa Igreja Católica é profundamente fundado nas Sagradas Escrituras, embora ela mesma (a Igreja) seja superior às Escrituras.
I- Pecado original
O homem, antes do pecado, vivia em estado de inocência. Deus, ao criar nossos primeiros pais, os dotou de três espécies de dons: os naturais, os preternaturais e os sobrenaturais.
Os dons naturais são as propriedades do corpo e da alma exigidas pela natureza do homem [isto é, a razão e a vontade], para que ele alcance o seu fim natural.Os dons preternaturais são a imunidade do sofrimento, da ignorância, da concupiscência, da morte.Os dons sobrenaturais são a graça santificante que eleva o homem à dignidade de filho de Deus, e lhe dá direito à visão beatifica do céu.
A natureza humana exigia apenas os dons naturais (a razão e a vontade). Os dons preternaturais e os dons sobrenaturais não eram devidos ao homem e excediam as exigências de sua natureza. Foram dados gratuitamente por Deus e não constituíam direitos do homem.
Ao cometer o primeiro pecado, Adão e Eva perderam os dons que lhes foram dados gratuitamente, ou seja, os preternaturais e os sobrenaturais. Permaneceram neles, em razão da exigência de sua natureza, apenas os dons naturais, embora embotados, conforme explica Santo Tomás[1]: “se seguiu [do pecado] que o homem sentisse no apetite sensível inferior movimentos desordenados da concupiscência e da ira e das outras paixões não segundo a ordem da razão, mas antes repugnantes, ordinariamente obnubilantes e de certo modo perturbantes dela”.
O pecado original, portanto, causou no homem uma desordem das virtudes inferiores (que já não mais se sujeitam perfeitamente à razão) e do corpo (que já não mais se submete de todo à alma).
Este primeiro pecado foi transmitido aos pósteros não como castigo, como pensam algumas teologias tortas, mas como privação. Para ilustrar,
Suponhamos que um rei adote e enriqueça um de seus criados, porque lhe dedica amor. O criado torna-se senhor rico e poderoso, pela generosidade de seu amo, porém, um belo dia, o criado ricaço, desvairado pelo orgulho, revolta-se contra o rei, e este último, em castigo, retira-lhe todos os bens, as honras e os privilégios que lhe tinha concedido.
De rico que era, o homem torna-se de novo pobre; de poderoso torna a ser o criado de outrora e até em graça inferior, por não merecer mais a confiança do rei.Os filhos deste homem, que podiam ter nascido ricos, e terem sido educados na riqueza e nas honras, são pobres e sofrem privações. Eles são inocentes. O único culpado é o pai. E por que o pecado do pai se transmite aos filhos?Por quê?Pela simples razão de o pai não ter direito a estes bens, ele os recebeu de presente, os perdeu e, pelo fato, perderam-nos os filhos, e isso com toda justiça, pois eles não têm direito senão ao que possui o pai.
Assim acontece com o pecado original. (Exemplo do Pe. Júlio Maria de Lombaerde[2]):
Os filhos herdam a herança dos pais. Se os pais são ricos, os filhos herdarão riquezas; se os pais são pobres, os filhos herdarão pobrezas. Nós, os descentes de Adão e Eva, teríamos herdado os dons preternaturais e os sobrenaturais se nossos pais não os tivessem perdido. Porém, como eles pecaram, herdamos a sua herança, isto é, os dons naturais decaídos.
Por isso, os descendentes de Adão e Eva ficaram sujeitos aos sofrimentos, à ignorância, à concupiscência e à morte, além de terem perdido a graça santificante. Restaram-lhes a razão e a vontade, desordenadas.
O pecado em Adão e em Eva foi atual, enquanto que nos seus descendentes é um pecado de raça, herdado (é a privação dos dons perdidos).
Esta privação de dons é transmitida de geração em geração, de modo que todos contraímos a mancha do pecado original. Os efeitos deste pecado são evidentes. Basta ver os males humanos derivados das paixões desordenadas, tais como o homicídio, o adultério, a ira, a gula, a idolatria, a blasfêmia, o roubo, o orgulho, a avareza, etc.
Pois bem, a contração deste pecado se dá com a concepção[3]. Ora, é visível a qualquer observador a desordem causada pelo pecado original mesmo nas criancinhas. Diz Santo Agostinho[4], se referindo à sua primeira infância:
E em que eu poderia pecar nesse tempo? Acaso por desejar o peito chorando? Porque se agora eu suspirasse com a mesma avidez, não pelo seio materno, mas pela comida própria de minha idade, seria justamente escarnecido e repreendido. Logo, era digno de repreensão o que eu então fazia. [...] A prova está em que, segundo vamos crescendo, extirpamos e afastamos de nós essas coisas [...]. [Daí] se segue que o que é inocente nas crianças é a debilidade dos membros infantis, e não a alma.
E segue o Santo[5]:
Certa vez vi e observei um menino invejoso. Ainda não falava, e já olhava pálido e com rosto amargurado para o irmãozinho colaço. Alguém ignora isso? Dizem que as mães e as amas podem esconjurar esse defeito com não sei que remédios. Mas não sei se se pode considerar inocência o não suportar por companheiro na fonte do leite, que mana copiosa e abundante, ao que está necessitadíssimo do mesmo socorro, e que sustenta a vida apenas com esse alimento. Mas costuma-se tolerar indulgentemente essas faltas, não porque sejam nulas ou pequenas, mas porque espera-se que desapareçam com o tempo. Pelo que, embora tais coisas sejam perdoáveis em um menino, se as achamos em um adulto, mal as podemos suportar.
Com efeito, diz o Gênesis (8, 21): os sentidos e os pensamentos do coração do homem são inclinados para o mal desde a sua mocidade.
Nunca é demais esclarecer, porém, que a criança só peca pessoalmente a partir da idade da razão, por volta dos sete anos de idade. Estes defeitos da infância são efeitos do pecado original (ou seja, são efeitos da privação dos dons perdidos).
Pois bem, mas agora vejamos a atestação da Escritura sobre a existência e a transmissão deste pecado original.
Na Epístola aos Romanos (5, 12), São Paulo no diz: Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado neste mundo, e pelo pecado a morte, e assim passou a morte a todos os homens, porque todos pecaram...
É possível notar desta passagem que:
i) o pecado entrou no mundo por nossos primeiros pais, Adão e Eva;
ii) em consequência deste pecado, foram perdidos os dons preternaturais (a morte, os sofrimentos, etc. entraram no mundo) e os sobrenaturais (a graça santificante, razão por que foram expulsos do Paraíso e privados do Céu);
iii) este pecado foi transmitido aos pósteros ao modo de privação, de forma que todos os descendentes de Adão contraíram este pecado de raça (todos pecaram).
Ademais, diz o Salmo 50, 10: Eis que nasci na culpa, e minha mãe concebeu-me no pecado.
O homem nasce na culpa porque é concebido no pecado. É na concepção que ele contrai a culpa original dos primeiros pais. Disto se conclui que todo homem nasce inimigo de Deus, em razão do pecado original.
Mas com a Redenção, o homem pôde tornar-se filho de Deus novamente, e não apenas criatura Sua. A Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, Nosso Senhor Jesus Cristo, redimiu o gênero humano de sua culpa original através da Paixão e morte na Cruz, recuperando para nós os dons sobrenaturais, isto é, a graça santificante, pela qual poderemos nos tornar filhos de Deus e herdeiros do Céu.
Permanecemos privados, no entanto, dos dons preternaturais. A morte, a ignorância, a concupiscência, os sofrimentos são efeitos permanentes do pecado original.
Mas os méritos adquiridos por Cristo na Cruz não nos são aplicados automaticamente. É necessário que o sejam através de uma ablução sacramental, o Batismo, instituído por Nosso Senhor Jesus Cristo e por Ele tornado obrigatório.
II- Da necessidade e dos efeitos do Batismo
Do dito acima já se vislumbra a necessidade do Batismo para a salvação eterna. Sem ele, ninguém se salva. Com efeito, são palavras do Senhor (Jo 3, 5): Em verdade, em verdade te digo que quem não renascer da água e do Espirito Santo, não pode entrar no reino de Deus.
Deus impôs a todos a obrigação de receber o Batismo. Trata-se de uma lei universal. São Mateus nos atesta a ORDEM dada por Nosso Senhor Jesus Cristo (Mt 28, 18-19): Foi-me dado todo o poder no céu e na terra. IDE, pois, ENSINAI todas as gentes, BATIZANDO-AS em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo.
Diz ademais São Marcos, em confirmação da necessidade do batismo (Mc 16, 16): O que crer e for batizado, será salvo; o que, porém, não crer, será condenado.
Ajunta São Pedro (1Pe 3, 21): Esta água prefigurava o batismo que agora vos salva.
Diz também São Paulo (Tt 3, 5): Não pelas obras de justiça que tivéssemos feito, mas por sua misericórdia, salvou-nos mediante o batismo de regeneração e de renovação do Espírito Santo.
Assim, pois, está provado que o Batismo é essencial à salvação. Não há salvação sem ele. E isto é assim porque todos nascemos com o pecado original, conforme vimos acima, e para entrarmos no Céu é necessário que sejamos puros, pois não entrará nela [na Jerusalém Celeste] coisa alguma contaminada (Ap 21, 27). É necessário que nos tornemos filhos de Deus, e isso só é possível através do Batismo.
Além disso, os textos de Mc 16, 16, de 1Pe 3, 21 e de Tt 3, 5, todos citados acima, correlacionam o Batismo à salvação: é o batismo que agora vos salva. Ora, para ser salvo, é necessário antes estar perdido. E como é que o homem estava perdido? Estava perdido pelo pecado original. Assim, não é difícil extrair daí que o Batismo apaga o pecado original.
Mas não somente isso, a Igreja nos ensina que o Batismo apaga também todos os pecados pessoais. Já o Antigo Testamento profetizava (Ez 36, 25): Derramarei sobre vós uma água pura, e sereis purificados de todas as vossas imundícies. E São Pedro nos confirma (At 2, 38): Fazei penitência, e cada um de vós seja batizado, em nome de Jesus Cristo, para remissão de vossos pecados.
O Batismo também nos comunica a graça santificante pela qual nos tornamos justos, filhos de Deus e herdeiros da eterna salvação (Tt 3,5-7): salvou-nos mediante o batismo de regeneração e de renovação do Espírito Santo, que ele difundiu sobre nós abundantemente por Jesus Cristo, nosso Salvador, a fim de que, justificados pela sua graça, sejamos herdeiros da vida eterna. Herdeiros porque filhos (Rm 8, 17): Se (somos) filhos, também (somos) herdeiros: herdeiros de Deus e coerdeiros de Cristo.
Portanto, o Batismo lava o pecado original e os pecados pessoais, nos dá a graça pela qual somos justificados e nos torna filhos de Deus e herdeiros do Céu.
II- Do batismo de crianças
Tudo isso já seria suficiente para qualquer homem sensato concluir pela extrema necessidade do Batismo e, inclusive, por batizar suas crianças. Mas os protestantes não são sensatos e desejam ainda provas escriturísticas de que se devem batizar as crianças.
Dêmos-lhes as provas, mas antes exijamos uma prova deles: prove-nos pela Bíblia que é inaceitável (errado, execrável, intolerável, condenável, etc.) o batismo de criança. Mostre-nos um único texto do Novo Testamento que condene o batismo de criança...
Isto será impossível, pois não existe tal texto. Portanto, uma primeira prova, embora negativa, é esta: a Bíblia não condena o batismo de crianças. Mas os pastores protestantes, sim, porque são contra a Bíblia.
a) Segunda prova: Mt 28, 19: Ide, pois, ensinai todas as gentes, batizando-as em nome do pai, e do filho, e do espírito santo.
Euntes ergo docete omnes gentes baptizantes eos in nomine Patris et Filii et Spiritus Sancti.
Este texto traz uma ordem de Nosso Senhor Jesus Cristo aos Apóstolos: batizai todas as gentes. Algumas Bíblias o traduzem por todas as nações, como é o caso da Ave Maria, da Bíblia de Jerusalém e até mesmo da herética versão de João Ferreira de Almeida.
Pois bem, aqui temos uma ordem geral (ide, batizai), não se excluindo qualquer pessoa. Seja pobre seja rico, seja são seja doente, seja magro seja gordo, seja pequeno seja grande, seja criança seja adulto, todos devem ser batizados. A ordem é geral: batizai todas as gentes, todas as nações.
Se o batismo de crianças fosse um mal, como querem os amigos protestantes, a ordem de Nosso Senhor Jesus Cristo deveria ser outra: Ide, pois, ensinai apenas os adultos, batizando-os...
Mas não, a ordem é geral. Portanto, não há que excluir as crianças: deixai vir a mim as criancinhas... (Mt 19, 14).
b) Terceira prova: Col 2, 11-12: Também nele estais circuncidados com uma circuncisão não feita por mão de homem, mas que consiste no despojo do corpo da carne, (isto é) na circuncisão de Cristo. Tendo sido sepultados (para o pecado) com ele no batismo, com ele também ressuscitastes (para a vida da graça) mediante a fé na ação de Deus, que o ressuscitou dos mortos.
S. Paulo nos atesta claramente que o Batismo substitui a circuncisão: estais circuncidados... na circuncisão de Cristo. E qual é a circuncisão de Cristo? É esta: sepultado com ele no batismo, com ele...
Ora, se o Batismo substitui a circuncisão, devemos nos perguntar se somente os adultos eram circuncidados. Se assim for, então somente os adultos podem ser batizados.
Busquemos, pois, na Bíblia a resposta. Está em Gn 17, 10-12: Eis o pacto, que haveis de guardar, tu e a tua posteridade, depois de ti: todo o varão será circuncidado. Circuncidareis a carne do vosso prepúcio, e este será o sinal da aliança entre mim e vós. O menino de oito dias será circuncidado entre vós, nas vossas gerações: os escravos, tanto o escravo (nascido em casa), como o que comprardes, mesmo que não seja da vossa linhagem, serão circuncidados.
Veja, a circuncisão era feita ao oitavo dia. Se assim é, o Batismo deve ser administrado ao... A resposta é óbvia (só não aos amigos protestantes que teimam em protestar contra a Bíblia), o Batismo substituiu a circuncisão. Esta era o sinal da aliança entre Deus e o povo hebreu; o Batismo é sinal da nova e eterna aliança, que substituiu a anterior, envelhecida e antiquada (cf. Heb 8, 6-13). Trata-se, pois, da circuncisão de Cristo.
Aqui também se debela o bobo argumento protestante: ora, não se devem batizar as criancinhas, pois elas precisam crescer, aprender a fé e escolher como bem entender a sua religião...
Pobres protestantes, donde tiram essas loucuras? O povo hebreu circuncidava ao oitavo dia, pois tinha certeza da verdade de sua religião. Isso foi mandado por Deus. Se é dever dos pais escolher o melhor para seus filhos, e sabendo eles onde está a verdade, por que deixariam que se desviassem do caminho? Não percebem que estão emprestando sua boca e sua inteligência ao demônio com tais argumentos?
Vocês perguntam aos seus filhos a que horas querem fazer as refeições do dia? A que horas querem dormir? Se querem estudar, e em qual colégio? Vocês perguntam a seus filhos, diante de uma doença, se desejam tomar o remédio para que fiquem curados? Perguntam se querem escovar os dentes? Seria ridículo... Mas se vocês escolhem tudo isso por seus filhos, por que o batismo, que é infinitamente mais importante que tudo isso, deveria ser de escolha deles?
Ora, os católicos sabem que sua Igreja é a Igreja de Cristo, como os judeus sabiam que sua religião era a do Deus verdadeiro, e por isso batizam suas crianças, para que, livres do pecado original, tornem-se membros da Igreja e portadores da graça de Cristo, pela qual são justificadas e tornam-se herdeiras do Paraíso.
c) Quarta prova: At 2, 38-39: Pedro disse-lhes: Fazei penitência, e cada um de vós seja batizado, em nome de Jesus Cristo, para remissão de vossos pecados; e recebereis, então, dom do Espírito Santo. Porque a promessa é para vós, para os vossos filhos, para todos os que estão longe e para quantos o nosso Deus chamar.
São Pedro, logo após o Pentecostes, fez um discurso arrebatador, no qual três mil pessoas de converteram (At 2, 14-41). Os que o ouviram, compungiram-se o coração e perguntaram: que devemos fazer, irmãos? (At 2, 37). E a resposta de São Pedro não é a resposta protestante: devem aceitar Jesus... mas sim a resposta católica: fazei penitência, seja batizado... e isto vale para vós e para vossos filhos.
Assim é esta passagem em grego (At 2, 39):
ὑμῖν γάρ ἐστιν ἡ ἐπαγγελία καὶ τοῖς τέκνοις ὑμῶν καὶ πᾶσιν τοῖς εἰς μακρὰν ὅσους ἂν προσκαλέσηται Κύριος ὁ Θεὸς ἡμῶν
O termo τέκνοις traduzido para o português quer dizer crianças.
Em latim (At 2, 39):
vobis enim est repromissio et filiis vestris et omnibus qui longe sunt quoscumque advocaverit Dominus Deus noster
Assim, as crianças não só podem como devem ser batizadas. É ordem do Apóstolo.
d) Quinta prova: 1Cor 1, 16: Batizei também a família de Estéfanas.
São Paulo nos afirma ter batizado uma família inteira. É de se notar que na época as família eram grandes, com numerosos filhos, pois ter muitos filhos era sinônimo de bênçãos de Deus. É assim ainda entre os católicos.
Não se praticavam o controle de natalidade, como hoje, sob o argumento de criar melhor os filhos. Na verdade, o que se quer por trás desta falsa caridade é gozar a vida, é ganhar o mundo. São egoístas travestidos de pessoas honestas.
Os católicos como outrora ainda hoje são generosos. É terminantemente proibido a um católico praticar qualquer controle de natalidade, sob pena de pecado mortal.
Pois bem, é de se presumir que a família de Estéfanas era grande, como a de nossos avós e bisavós, com várias crianças. E São Paulo não nos informa que batizou apenas Estéfanas e sua esposa, ou apenas os adultos, mas sim que batizou toda a família. Havia com toda certeza muitas crianças nesta família e todas foram batizadas.
e) Sexta prova: At 16, 15: Tendo sido batizada ela com sua família, fez este pedido: Se julgais que sou fiel ao Senhor, entrai em minha casa e ficai nela.
O mesmo argumento acima vale para a família de Lídia. Ao escutar São Paulo, converteu-se e foi batizada por ele, juntamente com toda a sua família. É de presumir que muitas crianças foram batizadas nesta ocasião.
f) Sétima prova: At 16, 32-33: E pregaram a palavra do Senhor a ele e a todos os que estavam em sua casa. Então, tomando cuidado deles naquela mesma hora da noite, lavou-lhes as chagas, e, imediatamente foi batizado com toda a sua família.
O carcereiro, após presenciar o exemplo dos prisioneiros Paulo e Silas, trêmulo, se converteu. Foi ele também batizado juntamente com toda a sua família.
Novamente, facilmente se pode depreender da narração que o carcereiro tivesse filhos, pois do contrário a Escritura diria que foi batizado ele e sua esposa. E presume-se que eram muitos filhos, pelas razões ditas acima. Portanto, muitas crianças foram batizadas nesta ocasião.
Há ainda nesta passagem uma forte prova sobre a extrema necessidade e a supina importância do Batismo. Imediatamente após ouvir o anuncio do Evangelho, foram batizados. A Escritura acrescenta: naquela mesma hora da noite.
Isso mostra que o Batismo não deve ser protelado. E o que dizer dos pais protestantes que deixam seus filhos crescer sem batismo? Muitos deles já adultos vivem como pagãos, sem batismo, sem graça, fora do corpo da Igreja. Pobres protestantes, vejam a consequência das suas heresias.
Vós protestais contra a Igreja, contra a Bíblia, contra os Apóstolos, contra Cristo. Vós estais submetendo vossos filhos à perdição eterna! Quantos não morrem ainda na infância, ou na adolescência, ou mesmo após adultos, sem o batismo? Sejam sinceros, façam penitência e convertam-se das suas heresias. A Igreja vos receberá de braços abertos, a vós e a vossos filhos.
***
As provas dadas são mais que suficientes para o convencimento de qualquer pessoa sincera. Agora rebatamos o grande argumento protestante para não batizar as crianças: Cristo só foi batizado depois de adulto.
A primeira coisa que se deve perguntar aos protestantes é: Cristo tinha necessidade de ser batizado? Se a resposta for sim, então ele não é Deus, e seria apenas um homem que necessitaria de fazer penitência e se arrepender de seus pecados (cf. Mt 3, 6). Logo, a religião cristã é falsa, pois Cristo não teria e nem podia ter redimido a humanidade.
Nós, porém, cremos que Jesus Cristo é Deus. E Deus, por ser perfeitíssimo, não pode necessitar de Batismo.
Então por que Cristo foi batizado?
Valho-me de um exemplo dado por um amigo para explicar isto que não é difícil compreender. Supondo que nós tocássemos num leproso, o que nos aconteceria? Contrairíamos lepra, não é verdade? E se Cristo o tocasse, o que aconteceria? A resposta é simples, aconteceria o efeito contrário, ao invés de Ele contrair a lepra, era o leproso que, digamos, contrairia a saúde. Tudo o que toca em Nosso Senhor Jesus Cristo fica purificado. Aqui está um exemplo:
Ora, uma mulher que padecia dum fluxo de sangue havia doze anos, e tinha gasto com médicos todos os seus bens, sem que nenhum a pudesse curar, aproximou-se dele por detrás e tocou-lhe a orla do manto; e, no mesmo instante, lhe parou o fluxo de sangue (Lc 8, 43-44).
Pois bem. E o que acontece quando nós nos submetemos às águas do Batismo? Ora, vimos acima, ficamos limpos de todos os nossos pecados. E o que aconteceu quando as águas do Jordão tocaram a Nosso Senhor Jesus Cristo? Simples, o contrário do que acontece conosco: elas foram purificadas. Assim, querido amigo protestante, Cristo foi batizado não por necessidade, mas para santificar as águas, para que nós pudéssemos ser batizados por elas.
O batismo de Cristo e o nosso são essencialmente diferentes. Somos purificados pelo Batismo; Ele já era puro. Somos feitos filhos de Deus pelo Batismo; Ele já era o Filho de Deus antes do Batismo. Somos feitos herdeiros do Paraíso pelo Batismo; Ele já era Senhor do Paraíso antes do Batismo. Recebemos a graça santificante pelo Batismo; Ele é o autor da graça. Recebemos o Espírito Santo pelo Batismo; Ele, o Pai e o Espírito Santo são um.
O argumento de que só se deve batizar o adulto, em imitação a Cristo, não procede, e foi refutado há séculos. São Gregório de Nazianzo (329-389) já o havia respondido:
Porém, alguém dirá: ‘Cristo, que é Deus, se fez batizar aos trinta anos e tu nos empurras desde logo o batismo’. Afirmar assim a sua divindade é o que responde a essa objeção. Ele, a própria pureza, não precisava de purificação, mas se fez purificar por vós, assim como por vós se fez carne, uma vez que Deus não tem corpo. Além disso, Ele não corria nenhum perigo por retardar o seu batismo, pois podia livremente regular o seu sofrimento assim como regulou o seu nascimento. Para vós, ao contrário, não seria pequeno o perigo no caso de deixardes este mundo sem terdes recebido, no vosso nascimento, nada além que uma vida perecível, sem estardes revestidos da incorruptibilidade (Sermão 40,26-27).
Portanto, caro amigo, o Batismo é necessário e deve ser administrado o mais cedo possível, pois os méritos de Cristo nos são comunicados por ele: Em verdade, em verdade te digo que quem não renascer da água e do Espirito Santo, não pode entrar no reino de Deus (Jo 3, 5).
III – A prática do Batismo de crianças – testemunhos históricos[6]
Dionísio Areopagita foi convertido pelo discurso de S. Paulo no Areópago, em Atenas (At 17, 34), e foi batizado pelo próprio Apóstolo Paulo. Posteriormente, tornou-se Bispo. Sobre o batismo de crianças, escreveu ele:
“É uma tradição que nos vem dos apóstolos, que as crianças devem ser batizadas” (Eccl. Hier., cult.).
Santo Ireneu nasceu aproximadamente no ano 130 e morreu no ano 202. Foi discípulo de São Policarpo, e este, por sua vez, foi discípulo de São João Evangelista, com quem conviveu. A respeito do batismo, diz S. Ireneu:
“Todos aqueles que são regenerados em Jesus Cristo, isto é, crianças, jovens, velhos, serão salvos” (Contra as Heresias II-22, 4).
Isto confirma o que S. Dionísio havia dito, ou seja, que é uma tradição vinda dos Apóstolos o batismo de crianças. Os primeiros cristãos só fazia continuar esta prática.
Orígenes, nascido por volta do ano 185 e cuja morte ocorreu em 253, por diversas vezes se referiu ao batismo de crianças:
“De acordo com o costume da Igreja, o batismo é conferido às crianças” (244 d. C., Homilia a Leviticus 8:3:11);
“É na Igreja uma tradição, provinda dos apóstolos, dar o batismo às crianças (Leb. 5, c. 6);
“A Igreja recebeu dos Apóstolos o costume de administrar o batismo inclusive às crianças, pois aqueles a quem foram confiados os segredos dos mistérios divinos sabiam muito bem que todos carregam a mancha do pecado original que deve ser lavada pela água e pelo espírito” (In. Rom. Com. 5,9: EH 249);
“Se as crianças são batizadas ‘para a remissão dos pecados’ cabem as perguntas: de que pecados se tratam? Quando eles pecaram? Como se pode aceitar tal testemunho para o batismo das crianças se não se admitir que ‘ninguém é isento do pecado, mesmo quando a sua vida na terra não tenha durado mais que um só dia’? As manchas do nascimento são apagadas pelo mistério do batismo. Batizam-se as crianças porque ‘se não nascer da água e do espírito, é impossível entrar no reino dos céus’” (In Luc. Hom. 14,1.5).
“Se gostais de ouvir o que outros santos disseram acerca do nascimento físico, escutai a Davi quando diz: ‘Fui formado na maldade e minha mãe me concebeu no pecado’. Assim diz o texto. Demonstra que toda alma que nasce na carne carrega a mancha da iniquidade e do pecado. Esta é a razão daquela sentença que citamos mais acima: ninguém está limpo do pecado, nem sequer a criança que só tem um dia [de vida]. A tudo isto se pode acrescentar uma consideração sobre o motivo que a Igreja tem para o costume de batizar também as crianças: este sacramento da Igreja é para a remissão dos pecados. Certamente que, se não houvesse nas crianças nada que requeresse a remissão e o perdão, a graça do batismo seria desnecessária” (In Lev. Hom 8,3).
Santo Hipólito de Roma, nascido por volta do ano 170 e morto em 236, foi discípulo de S. Ireneu, segundo testemunho de Fócio. Sobre o batismo de crianças, ele diz o seguinte:
“Ao cantar o galo, se começará a rezar sobre a água, seja a água que flui da fonte, seja a que flui do alto. Assim se fará, salvo em caso de necessidade. Portanto, se houver uma necessidade permanente e urgente, se empregará a água que se encontrar. Se desnudarão e se batizarão primeiro as crianças. Todas as que puderem falar por si mesmas, que falem; quanto às que não puderem, falem por elas os seus pais ou alguém da sua família. Se batizarão em seguida os homens e, finalmente, as mulheres […] O bispo ao impor-lhes as mãos, pronunciará a invocação: ‘Senhor Deus, que os fizeste dignos de obter a remissão dos pecados através do banho da regeneração, fazei-os dignos de receber o Espírito Santo e envia sobre eles a tua graça, para que te sirvam obedecendo a tua vontade. A Ti a glória, Pai, Filho e Espírito Santo, na Santa Igreja, agora e pelos séculos. Amém” (Tradição Apostólica 20,21 - escrito no ano de 215).
O Concílio de Cartago, realizado no ano de 253, que teve a participação de S. Cipriano de Cartago, condenou a doutrina de que o batismo das crianças deveria ser adiado até os oito anos de idade.
S. Cipriano morreu martirizado no dia 14 de setembro de 258. Participou dos seguidos concílios realizados em Cartago sobre os Lapsi. Sobre o batismo de crianças, disse:
“Porém, no tocante às crianças, as quais dizes que não devem ser batizadas no segundo ou terceiro dia após seu nascimento, e que a antiga lei da circuncisão deve ser considerada, de modo que pensas que quem acaba de nascer não deva ser batizado e santificado dentro dos oito [primeiros] dias, todos nós pensamos de maneira bem diferente em nosso Concílio. Neste caminho que pensavas seguir, ninguém concorda; ao contrário, julgamos que a misericórdia e a graça de Deus não deve ser negada a ninguém nascido do homem pois, como diz o Senhor no seu Evangelho, ‘o Filho do homem não veio para destruir a vida dos homens, mas para salvá-la’. À medida que podemos, devemos procurar que, sendo possível, nenhuma alma seja perdida […] Por outro lado, a fé nas Escrituras divinas nos declara que todos, sejam crianças ou adultos, têm a mesma igualdade nos divinos dons […] razão pela qual cremos que ninguém deve ser impedido de obter a graça da lei, pela lei em que foi ordenado, e que a circuncisão espiritual não deva ser obstaculizada pela circuncisão carnal, mas que todos os homens devem ser absolutamente admitidos à graça de Cristo, já que também Pedro, nos Atos dos Apóstolos, fala e diz: ‘O Senhor me disse que eu não deveria chamar a ninguém de ordinário ou imundo’. Entretanto, se nada poderia obstaculizar a obtenção da graça pelos homens ao mais atroz dos pecados, não se pode colocar obstáculos aos que são maiores. Porém, se se crê que até aos piores pecadores e aos que pecaram contra Deus lhes é concedida a remissão dos pecados, não sendo nenhum deles impedido do batismo e da graça, quanto mais não deveríamos obstaculizar um bebê que, sendo recém-nascido, não pecou ainda [pessoalmente], mas por ter nascido da carne de Adão, contraiu o contágio da morte antiga em seu nascimento […] Logo, querido irmão, esta foi a nossa opinião no Concílio: que, por nós, ninguém deve ser impedido de receber o batismo e a graça de Deus, que é misericordioso, amável e carinhoso para com todos; e que, visto que é observado e mantido em relação a todos, parece-nos que seja ainda mais no caso dos lactantes” […] (Carta 58, a Fido, sobre o Batismo das Crianças).
“Parece-me bem e a todo o concílio que as crianças sejam batizadas, mesmo antes de oito dias” (Lev. 3, ep. Ad. Fidum – Carta a Fido).
São Gregório de Nazianzo nasceu em 329 e morreu em 389. É considerado como o mais talentoso retórico da era patrística. Sobre o batismo de crianças, diz ele:
“Façamo-nos batizar para vencer. Tomemos nossa parte nessas águas mais purificadoras que o hissopo; mais puras que o sangue das vítimas impostas pela Lei; mais sagradas que as cinzas do bezerro, cuja aspersão podia ser suficiente para dar às faltas comuns uma provisória purificação corporal, mas não uma total remissão do pecado. Teria sido necessário, sem isso, renovar a purificação daqueles que já a tinham recebido uma vez? Façamo-nos batizar hoje, para não estarmos obrigados a fazê-lo amanhã. Não retardemos o benefício como se nos surgisse algum problema. Não esperemos ter pecado mais para, mediante ele (=o batismo), sermos perdoados em maior medida; isso seria fazer uma indigna especulação comercial acerca de Cristo. Tomar uma carga superior a que podemos carregar é correr o risco de perder, em um naufrágio, o navio, o corpo e os bens, os seja, todo o fruto da graça que não se soube aproveitar […] Inclusive as crianças: não deixeis tempo para a malícia apoderar-se delas; santificai-as enquanto são inocentes; consagrai-as ao Espírito enquanto ainda não lhe saíram os dentes. Que pusilanimidade e que falta de fé daquelas mães que temem o caráter batismal pela fragilidade da sua natureza! Antes de o ter trazido ao mundo, Ana dedicou Samuel a Deus e, imediatamente após o seu nascimento, o consagrou; a partir de então, o carregava vestido com um hábito sacerdotal sem temor algum dos homens, em razão da sua confiança em Deus. Não há necessidade, então, de amuletos ou encantamentos, meios de que se serve o maligno para insinuar-se nos espíritos pequenos em demasia e transformar em seu benefício o temor religioso em prejuízo a Deus. Opõe a ele a Trindade, imensa e formosa talismã” (Sermão 40, 11.17, sobre o Santo Batismo).
São João Crisóstomo, tendo nascido aproximadamente em 347 e falecido em 407, ficou conhecido como “boca de ouro”, pelas suas maravilhosas homilias. Também ele tratou do batismo de crianças:
“Deus seja louvado! Ele, que produz tais maravilhas! Vês quão múltipla é a graça do batismo? Alguns enxergam nele apenas a remissão dos pecados, mas nós podemos delinear dez dons de honra. Por isso batizamos também as crianças de pouca idade, quando ainda não começaram a pecar, para que recebam a santidade, a justiça, a filiação, a herança, a fraternidade de Cristo, para que se convertam em membros e morada do Espírito Santo” (Sermão aos Neófitos).
O Papa Sirício, que governou a Igreja entre dezembro de 384 e 26 de novembro de 399, na Carta “Directa ad decessorem”, direcionada ao bispo Himério de Tarragona, datada de 10 fevereiro de 385, escreveu o seguinte:
“Como, portanto, afirmamos que absolutamente não se deve diminuir a veneração da Páscoa, assim queremos que às crianças que por causa da idade ainda não podem falar, ou aos que por qualquer emergência precisam da água do sagrado batismo, se venha em socorro com toda a rapidez, a fim de que não soframos dano para as nossas almas se, tendo negado àqueles que o desejam a fonte da vida, alguém ao sair do mundo perca o reino dos céus e a vida. Qualquer um que incorrer no risco do naufrágio, na hostilidade dos inimigos, na incerteza de um assédio ou em qualquer enfermidade corporal desesperadora e solicitar ser ajudado com o único auxílio da fé, consiga, no mesmo momento em que o pedir, o prêmio da regeneração pedida. Bastam os erros cometidos até agora nesta parte. De agora em diante, todos os sacerdotes que não querem ser arrancados da sólida pedra apostólica sobre a qual Cristo construiu a Igreja universal observem esta regra” (Cap. 2 § 3).
Concílios africanos de Cartago e Milevis, em condenação ao pelagianismo, primeira heresia a negar a necessidade do batismo para a salvação (como, aliás, fazem boa parte dos hereges protestantes):
“Igualmente dispôs que aqueles que negam que os recém-nascidos do seio de suas mães não devem ser batizados ou efetivamente dizem que são batizados para a remissão dos pecados, mas que nada trazem do pecado original de Adão para ser expiado pelo banho da regeneração de onde, por consequência, se concluiria que neles a fórmula do batismo ‘para a remissão dos pecados’ deve ser compreendida como inverídica ou falsa, sejam anátemas. Isto porque disse o Apóstolo: ‘Por um só homem entrou o pecado no mundo e, pelo pecado, a morte; e assim passou a todos os homens, porque nele todos pecaram’ [cf. Romanos 5,12], o que não deve ser compreendido de maneira diferente daquilo que sempre compreendeu a Igreja Católica espalhada pelo mundo. Logo, por esta regra de fé, mesmo as crianças pequeninas, que ainda não puderam cometer pecados por si mesmas, são verdadeiramente batizadas para a remissão dos pecados, a fim de que, pela regeneração, se limpe nelas aquilo que contraíram pela geração” (Concílio de Milevis II, ano 416; Concílio de Cartago, ano 418 – Concílios aprovados pelos Papas Santo Inocêncio I e São Zózimo; Do Pecado e da Graça, cânon 2).
Santo Agostinho (354-430), um luminar da Igreja, em diversas ocasiões tratou sobre o batismo de crianças. Eis algumas de suas passagens:
“O batismo dos filhos de pais cristãos: apesar do matrimônio justo e legítimo destes filhos de Deus, não nascem filhos de Deus, em razão desta concupiscência. Isto porque os que geram, embora já tenham sido regenerados [pelo batismo], não geram como filhos de Deus, mas como filhos do mundo. Com efeito, esta é a sentença do Senhor: ‘Os filhos deste mundo geram e são gerados’. Por sermos filhos deste mundo, nosso homem interior se corrompe; por isso, são gerados também filhos deste mundo e não serão filhos de Deus se não forem regenerados. Entretanto, por sermos filhos de Deus, nosso homem interior se renova a cada dia; e também o homem exterior, pelo banho da regeneração, é santificado e recebe a esperança da incorrupção futura, sendo por isso chamado com toda a razão ‘templo de Deus’” (Do Matrimônio e da Concupiscência 1,18,20).
“Todo aquele que nega que as crianças, ao serem batizadas, são arrancadas deste poder das trevas, do qual o Diabo é o príncipe, ou seja, do poder do Diabo e de seus anjos, é refutado pela verdade dos próprios sacramentos da Igreja. Nenhuma novidade herética pode alterar ou destruir qualquer coisa na Igreja de Cristo, já que a Cabeça dirige e auxilia todo o seu Corpo, tanto aos pequenos (=crianças) quanto aos grandes (=adultos)” (Do Matrimônio e da Concupiscência 1,20,22).
“Com efeito, desde que foi instituída a circuncisão no povo de Deus que então era o sinal da justificação pela fé esta teve valor por significar a purificação do antigo pecado original também para as crianças, da mesma forma como o batismo começou a ter valor também para a renovação do homem desde o momento em que foi instituído. Não que antes da circuncisão não houvesse justiça alguma pela fé pois o próprio Abraão, pai das nações que seguiriam a sua mesma fé, foi justificado pela fé, mesmo sendo todavia incircunciso mas porque o sacramento da justificação pela fé esteve totalmente escondido nos tempos mais antigos. Porém, a mesma fé no Mediador salvava os antigos justos, pequenos e grandes” (Do Matrimônio e da Concupiscência 2,11,24).
“O costume da madre Igreja de batizar crianças certamente não deve ser zombado... nem que esta tradição seja algo que não dos apóstolos” (Interpretação Literal do Gênesis 10:23:39 [408 d. C.]):.
Por fim, descobertas recentes nas catacumbas romanas comprovaram mais uma vez a antiguidade das práticas batismais de crianças:
Um cristão, por nome Murtius Verinus, escreveu no túmulo de seus filhos: “Verina recebeu (o batismo) aos dez meses de idade; Florina aos doze meses de idade”.
Em outro túmulo nas catacumbas, lemos: “Aqui repousa Archillia, uma recém-batizada: ela tinha um ano e cinco meses de idade, e morreu em 23 de fevereiro”.
Para não multiplicar as citações e cansarmos o leitor, paremos por aqui. As carreadas são já suficientes para o convencimento de qualquer pessoa sincera de coração. Conheço pessoas que se converteram com muito menos.
Alguns há que nem mesmo o próprio S. Paulo lhes convenceria do erro: a inteligência deles permaneceu obscurecida. Ainda agora, quando leem o Antigo Testamento, esse mesmo véu permanece abaixado (2 Cor 3, 14). A estes, Nosso Senhor Jesus Cristo lhes diz: Deixai-os; são cegos, e guias de cegos; e, se um cego guia outro cego, ambos caem na fossa (Mt 15, 14).
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[1] Compendio de Teologia.
[3] Apenas Maria Santíssima não contraiu o pecado original. Sobre a Imaculada Conceição, conferir aqui e aqui.
[4] Confissões, Livro I, VII.
[5] Ibidem.
[6] Para aprofundar, cf. o site Veritatis Splendor.
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