Pe. Júlio Maria de Lombaerde, objeções e erros protestantes.
Objeção [protestante]
Um texto de São Paulo
O ÚNICO MEDIADOR
Aqui temos uma das grandes objeções dos protestantes contra o culto da Sma. Virgem, invocada pelos católicos sob o título de Medianeira. Logo eles nos apresentam o texto de São Paulo:
Só há um Deus, e só há um mediador entre Deus e os homens, que é Jesus Cristo homem. (1 Tim 2, 5).
Muito bem. Nós Católicos aceitamos este texto e pretendemos observá-lo em todo o rigor da sua expressão, porém é preciso dar-lhe o valor que lhe é próprio e não atribuir-lhe uma significação que não tem nem pode ter. Examinemos o texto de perto.
I. O Cristo, Mediador
"Só há um Deus, diz São Paulo, e só há um mediador entre Deus e os homens".
Esta verdade é repetida diversas vezes pelo Apóstolo: (Gal 3, 20); ( Heb 8, 6); (Heb 9, 15); (Heb 12, 24), e este mediador é Jesus Cristo-homem (Tim 2, 5).
Eis uma verdade básica que Católicos e protestantes aceitam integralmente e sem discussão.
Donde vem a discordância? Unicamente pela tendência perversa dos amigos protestantes em quererem protestar até nos pontos onde não há possibilidade de protesto, nem sombra de protesto. Nunca a Igreja Católica admitiu outro Mediador entre Deus e os homens senão Jesus Cristo; e isso pela razão admiravelmente exposta pelo Apóstolo: "O Cristo nos deu um novo testamento, mas, onde há um testamento, é necessário que intervenha a morte do testador; pois o testamento não se confirma senão quanto aos mortos (Heb 9, 16-17). Tudo isso é positivo e claro. Por que então discutir?
O Cristo ofereceu-se, morreu, derramando o seu sangue divino, e por isso é mediador do Novo Testamento (Heb 9, 15).
Porque os Católicos invocam a Imaculada Mãe de Jesus como Medianeira das graças?
E eis que a palavra Medianeira aplicada à Virgem Santa levanta e exalta a natural aversão dos protestantes à Mãe de Jesus.
Não havia razão para isso, pois os Católicos não perturbam em nada a ordem estabelecida e não pretendem, como julgam os amigos protestantes, colocar outro Mediador ao lado do Cristo.
Tal asserção denota simplesmente uma ignorância estupenda, ou então, a resolução de querer protestar, seja como for.
Examinemos bem, pois, a tal Mediação atribuída à Virgem Maria.
II. Maria Sma. Medianeira
O único Mediador, entre Deus e os homens, é Jesus Cristo. Note bem, amigo Protestante, pois é aqui a base do erro protestante. Os Católicos colocam aqui a Sma. Virgem não diretamente entre Deus e os homens, mas sim entre o Cristo e os homens. É essencialmente diferente.
A teologia católica diz: Mediatrix ad Christum mediatorem; isto é: Medianeira junto ao Cristo Mediador. Deste modo, o Cristo fica o único Mediador entre Deus e os homens; e a Virgem Maria fica uma medianeira junto ao Cristo; em outros termos: o Mediador principal e perfeito é o Cristo; sendo Maria Sma. uma Medianeira ministerial e dispositiva.
Neste sentido todos os Santos são intercessores. Medianeiros junto ao Cristo, sendo-o a Virgem Santa, pela sua qualidade de Mãe de Deus, de um modo mais excelente e mais eficaz.
Eis uma doutrina muito simples e muito lógica.
Deus, o Pai e Senhor de tudo.
Jesus Cristo, único Mediador entre Deus e os homens.
Maria Sma. Medianeira entre o Cristo e os homens, de um modo mais excelente, mas na mesma ordem que todos os Santos.
III. O necessário e o útil
Podíamos mostrar com outros argumentos a lógica e o fundamento desta Mediação, dizendo que a Mediação de Jesus Cristo é uma Mediação necessária, e a da Virgem Santa uma mediação útil.
Esta comparação é de Carlos de Laet:
Podemos dizer que sem água não podemos viver; a água é pois necessária; porém podemos ir buscar esta água ao longe, na fonte, como pode ser-nos transmitida por encanamento e chegar, deste modo, até dentro de casa, poupando-nos fadigas e tempo para ir captá-la em cima dos montes.
Tal encanamento não é necessário, porém é muito útil.
Imagine-se agora que um homem venha dizer-nos: "Não vos é necessário tal encanamento; urge, pois, destruí-lo, porque necessário é só a nascente".
Que diria o meu amigo protestante ao tal homem? Diria, de certo, o que o Católico dirá: É verdade que só a água me é necessária, porém o encanamento é de suma utilidade.
Eis o que ensina a Igreja Católica.
Só a mediação de Cristo é necessária, mas a da Virgem Santa é sumamente útil. O Cristo é a nascente, a fonte. Maria Sma. é o canal que nos transmite a água cristalina da graça divina, "Aqueductus gratiarum" como dizem os teólogos e os Santos Padres.
IV. Outra comparação
Suponhamos, amigo protestante, que o Presidente da República governasse só a nossa Pátria, auxiliado por um Ministro de confiança por cujas mãos passassem todas as nomeações de cargos inferiores.
Tal ministro será, deste modo, o único Mediador entre o Presidente e o povo.
Suponhamos que tal ministro tenha junto a ele sua própria mãe a quem muito estima, sem que ela tome parte na direção dos negócios públicos.
Um belo dia, eis que o amigo protestante precisasse de um emprego, de um favor qualquer. Que faria o Amigo? Usaria de um pouco de diplomacia podendo entrar em relação com a Mãe do Ministro, falaria com ela para que intercedesse junto ao filho, afim de alcançar-lhe o benefício almejado.
Não seria isso lógico, natural? E podia o Ministro ficar ofendido por não ter o suplicante recorrido diretamente a ele?
De certo que não. Ao contrário, o pedido do amigo protestante, apresentado ao Ministro pela própria mãe deste, adquiriria duplo valor: o do pedido e o da intercessão.
Assim fazem os Católicos. Reconhecem que Deus é a fonte e o autor de todo o bem; reconhecem que Jesus Cristo é o único Medianeiro necessário, mas reconhecem que, junto a Ele, tem um valor extraordinário a sua Sma. Mãe, e recorrem a ela como Medianeira Secundária de grande utilidade, para que interceda por eles junto ao divino Filho.
Conclusão
Está vendo, caro amigo protestante, que é inútil citar textos da Bíblia para provar uma verdade que a Igreja Católica reconhece e aceita [?]
É inútil refutar objeções que só existem na cabeça daqueles que as fabricam sem indagar ou saber o que eles objetam; se existe ou tem, pelo menos, qualquer razão de existir.
Que serve provar que o sol existe, quando ninguém nega a sua existência?
Por que atribuir à Igreja Católica erros que ela não possui, ou doutrinas que ela não professa?
Tudo isso, de novo, mostra ou uma ignorância sem igual, ou então uma leviandade sem nome.
Peço, pois, reter bem esta conclusão, que o Sr. quer provar sem que ninguém o negue:
Só há um Deus, e só há um Mediador entre Deus e os homens, que é Jesus Cristo homem (1 Tim 2, 5).
Os Santos, por serem amigos de Deus, são intercessores junto a Deus, porém secundariamente.
Acima de todos os Santos, elevada pela sua dignidade de Mãe de Deus, está a Virgem Sma.; verdadeira Medianeira entre Jesus e os homens, Medianeira entre Deus e os homens, pois o seu Filho é Deus; porém, medianeira secundária, não absolutamente necessária, porém sumamente útil para nós homens.
Eis porque os Católicos têm a peito apresentarem-se a Jesus Cristo, acompanhados pela Virgem Santa, para, deste modo, dar mais valor às suas preces e serem mais bem acolhidos pelo único Mediador necessário, que é o Cristo-Jesus, o Filho de Maria.
Como isto é lógico, suave, consolador e... sobretudo, esperançoso!
Então quer dizer que o problema do Único Mediador é apenas aparente?
ResponderExcluirSim. Todos os santos, e principalmente os sacerdotes, são já desde aqui na terra medianeiros secundários entre Deus e os homens, a exemplo do que foi Moisés para o povo hebreu. Basta lembrar-se da serpente de bronze. Eis que o povo vai a Moisés e diz: "Pecamos, murmurando contra o Senhor e contra ti. ROGA AO SENHOR que afaste de nós essas serpentes" (Nm 20, 7). Caso semelhante ocorreu entre Abraão e Abimelec. Com efeito, diz a Sagrada Escritura (Gn 20, 7): "devolve agora a mulher deste homem, que é profeta, E ELE [Abraão] ROGARÁ POR TI para que conserves a vida".
ResponderExcluirProva ainda mais clara se encontra no livro de Jó (42, 8). O Senhor se dirige a Elifaz e diz o seguinte: “tomai, pois, sete touros e sete carneiros e VINDE TER COM MEU SERVO JÓ. Oferecei-os por vós em holocausto e meu servo Jó INTERCEDERÁ POR VÓS. É EM CONSIDERAÇÃO A ELE QUE NÃO VOS INFLIGIREI IGNOMÍNIAS por não terdes falado bem de mim, como Jó, meu servo”.
Em complemento, confira o que diz S. Paulo (Rm 10, 14-15): "como invocarão aquele em quem não têm fé? E como crerão naquele de quem não ouviram falar? E como ouvirão falar, se não HOUVER QUEM PREGUE? E como pregarão, se não FOREM ENVIADOS, como está escrito: quão formosos são os pés daqueles que anunciam as boas-novas (Is 52,7)? Ora, o que são estes enviados e que pregam senão medianeiros secundários entre Jesus e os homens? Se não instruíssem, o povo não ouviria falar de Cristo, não creria e, por conseguinte, não teria fé n’Ele.
Portanto, meu querido amigo, é falsa a doutrina protestante de que devemos nos reportar diretamente a Cristo, sem intercessores. A Própria Bíblia nos mostra inúmeras passagens (cf. 1Sam 12, 19; 7, 5; 1Rs 13, 6, etc.) nas quais um suplicante recorre a um intercessor dotado de méritos diante de Deus, para que interceda por ele. O próprio S. Paulo intercedeu pelos Colossenses (cf. Col 1, 3-11).
Note, por fim, que os próprios protestantes recorrem às orações de seus “pastores”, o que não é senão um modo de intercessão.
Logo, meu querido amigo, há sim um Único Mediador, Jesus Cristo, mas a sua mediação necessária não exclui a mediação secundária dos Santos, e, sobretudo a de Nossa Senhora, como foi bem explicado pelo Pe. Júlio Maria.
Um abraço.