Texto do Pe. Júlio Maria de Lombaerde
Pois não; seguem-se aqui textos; porém espero que o amigo crente há de citar-me também um texto que prove que os padres não podem perdoar os pecados, um só... É pouca exigência, não é?...
Certo de que o tal texto nunca será apresentado, eu vou já satisfazer o meu crente, e até além de seu pedido.
1. O que é a confissão
Que é a confissão? É um sacramento instituído por Jesus Cristo no qual o sacerdote, em nome de Deus, perdoa os pecados cometidos depois do batismo.
Qualquer criança de catecismo sabe isso de cor.
Eis a asserção; escute agora as provas. Diga lá: Os homens precisam ou não precisam de perdão?... Isto é: os homens pecam ou não pecam? O Espírito Santo responde por todos, até pelos biblistas. O justo cai sete vezes por dia (Prov. 24, 16). E se o próprio justo cai sete vezes, que será do pobre que não é justo?
Não há homem que não peque (Ecle 7, 21). E aquele que diz que não tem pecado, diz S. João, faz Deus mentiroso (1 Jo 1, 10).
Ora, se todo homem é pecador, e se o pecado não pode entrar no céu, deve haver um meio de alcançar perdão deste pecado, visto o homem ser destinado ao céu.
Nesta porta do Senhor, só o justo pode entrar (Sl 117, 20). Não sabeis que os pecadores não possuirão o reino de Deus? (1 Cor 6, 9).
II. Sua necessidade
E qual é este meio? É a confissão, nos diz S. João. Se confessarmos os nossos pecados, diz o apóstolo, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e purificar-nos de toda injustiça (1 Jo 1, 8).
Examine isso, amigo crente, se o texto figura em sua Bíblia.
O Espírito Santo o tinha dito já muito antes do Apóstolo: Aquele que esconde os seus crimes não será purificado; aquele, ao contrário, que se confessar e deixar seus crimes, alcançará a misericórdia (Prov. 28, 13). Não vos demoreis no erro dos ímpios, diz ainda o Espírito Santo, mas confessai-vos antes de morrer (Eclo 17, 26).
Eis a necessidade de confissão para todos os homens, antes de Jesus Cristo, como depois. De fato mostrarei que a confissão não é propriamente uma criação nova feita por Jesus Cristo, mas, que existindo já no Antigo Testamento, foi por ele elevada à dignidade de sacramento. Modificou-a, sem dúvida, porém já havia entre os judeus uma coisa que muito se lhe assemelhava.
Jesus Cristo, conhecendo a fraqueza humana e querendo salvar seus filhos, instituiu este grande sacramento da misericórdia.
Escute bem, caro crente, e além dos textos do bom- senso, verifique bem os textos das Escrituras, que são claros e positivos. Vou provar-lhe aqui duas coisas:
1.º Que Cristo podia perdoar os pecados;
2.º que ele comunicou este mesmo poder aos apóstolos, que eram os primeiros padres.
III. Cristo pode perdoar pecados
Diz S. Mateus (9, 2-7): Jesus curou um homem paralítico e lhe disse: tem confiança, os teus pecados te são perdoados. Dizem os Judeus: Este blasfema. Jesus responde que faz este milagre para que saibam que: O Filho do Homem tem, na terra, o poder de perdoar os pecados (Mt 9, 6). E a multidão, vendo isto, maravilhou-se e glorificou a Deus que dava tal poder aos homens (Mt 9, 8). Que quer dizer isto, amigo biblista?
Agora um pouco de reflexão sobre o texto inspirado do Evangelho. Jesus Cristo faz aqui um milagre para provar que, como homem, pode perdoar os pecados, por isso ele diz: O Filho do homem tem, na terra, o poder de perdoar os pecados (Mt 9, 6). E o povo glorifica a Deus, que deu tal poder aos homens (Mt 9, 8). Eis uma prova de que Jesus Cristo, mesmo como homem, havia recebido este poder de seu Pai.
IV. Comunicou este poder
E como comunicou ele este poder aos seus apóstolos? Escute bem, porque aqui está a força do argumento católico e a ruína da negação protestante.
No dia da sua ressurreição, como para significar que a confissão é uma espécie de ressurreição espiritual do pecador, apareceu no meio dos apóstolos... e, mostrando-lhes as suas mãos e seu lado..., lhes disse: A paz seja convosco. Assim como meu Pai me enviou, eu vos envio a vós (Jo 20, 21).
Ora, Jesus Cristo, como homem, tinha, como acabo de mostrá-lo, recebido de seu Pai o poder de perdoar os pecados; logo, ele deu este poder aos seus apóstolos.
Nota bem cada palavra deste texto, pois Cristo sabia falar e compreendia a significação de cada palavra. Ele diz: Assim como meu Pai me enviou, isto é, com o poder de perdoar os pecados, assim eu vos envio a vós, isso é, eu vos envio dotados do mesmo poder, fazendo o que fiz, perdoando os pecados, como eu os perdoei. Pode ser mais claro e mais positivo?
E, para dissipar a última possibilidade de dúvida ou de sofisma, Cristo continua, soprando sobre eles (Jo 20, 22): Recebei o Espirito Santo... como se dissesse: Recebei um poder divino.. só Deus pode perdoar pecados: pois bem... Recebei este poder divino (Jo 20, 22). Àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados, e àqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos (Jo 20, 23). Pode isso ser mais claro? Impossível! Veja o mesmo texto em S. Mateus (18, 18).
A conclusão é rigorosa: Cristo podia perdoar os pecados. Ele comunicou este poder aos apóstolos e por eles aos sucessores dos apóstolos: pois a Igreja é uma sociedade que deve durar até ao fim do mundo (Mt. 28, 20).
Se Cristo deu aos sacerdotes o poder de perdoar os pecados, impôs aos fiéis o dever de confessar estes pecados, porque poder e dever são correlativos. Todo poder impõe um dever, e não pode haver poder numa pessoa sem que exista um dever numa outra pessoa. Eis a instituição divina da confissão provada por muitos textos e com uma lógica irrefutável.
Só um cego para não ver e protestante obcecado para não compreender. Para que serve então a bíblia, se os textos mais claros não são compreendidos? Só sendo castigo de Deus!... Têm olhos e não enxergam, diz o salmista: têm ouvidos e não ouvem (SI 113, 5-6).
V. No Antigo Testamento
Sendo este assunto de inigualável importância e sendo contra ele que os protestantes costumam dirigir suas baterias de ódio, não será inútil entrar em mais alguns pormenores deste grande sacramento da misericórdia divina.
Quero mostrar-lhe, caro crente, que o Senhor nem sabe ler a sua Bíblia, nem compreender os seus ensinamentos. Não somente a confissão existe como sacramento, instituído por Jesus Cristo, mas já existia uma espécie de confissão no Antigo Testamento, de que a Bíblia fala em muitos lugares. Escute bem, sim? e verifique os textos.
Eis um texto dos Números (5, 6-7): Quando um homem ou uma mulher tiver cometido um dos pecados mais comuns à humanidade, ou por negligência ter violado os mandamento do Senhor, confessará os pecados, restituirá àquele contra quem pecou a justa indenização do mal que lhe tiver causado, juntando-lhe a quinta parte.
Aí está não só a confissão, mas ainda a penitência e a restituição, absolutamente como faz a Igreja católica. Este Moisés era bem pouco protestante, não acha, amigo crente? Já prescrevia a confissão, antes da vinda de Cristo... É por isso que Jesus disse que não vinha destruir a lei, mas cumpri-la, e que S. Mateus diz que os profetas e a lei, até João, profetizaram (Mt. 11, 13). Eis, pois, a profecia da nossa confissão e a resposta, ou condenação antecipada da negação protestante. Há muitos outros textos deste gênero, porém seria fastidioso prolongá-los (p. ex: Prov. 28, 13; Eclo 6, 24).
No tempo da vinda de Jesus existia essa prática da confissão, como se pode ver na pregação de João Batista, onde é dito que todos vinham ter com ele, da região da Judéia e de Jerusalém, confessavam os seus pecados e ele os batizava na rio Jordão (Mt. 3, 5-6). Que bomba para os batistas, que imitam tão pouco o seu modelo!... Vê-se que S. João Batista não tinha nada de protestante, nem de batista!... Não somente S. Mateus (3, 6) e S. Marcos (1, 5) mostram a confissão usada entre os judeus, mas o livro dos Atos refere que quem se convertia vinha fazer a confissão das suas culpas (At 19, 18).
Daquela época até hoje, a história atesta que sempre a confissão foi praticada pelos cristãos: imperado- res, reis, bispos, sacerdotes, assim como pelos simples fiéis dos quais citam os confessores.
VI. Confessar-se a Deus
E não objetem os cegos protestantes, no afã inglório de fabricar objeções, que tal confissão consistia em confessar os pecados a Deus. É preciso ser cego para não ver o absurdo de tal subterfúgio.
Pensariam eles que um criminoso prestes a ser executado faria realmente uma confissão, se se contentasse de confessar os seus pecados a Deus, no seu coração? Não. Cada execução que se tem efetuado, tem provado justamente o contrário.
A confissão é a revelação do pecado a um homem. Para que confessar seus pecados a Deus? Deus conhece todas as coisas e não tem que fazer com tal confissão. Além disso, vê-se no texto dos Números que a confissão devia ser feita a um homem, como a restituição da coisa tomada.
Aliás, S. Tiago é explícito a esse respeito: Confessai os vossos pecados uns aos outros, diz ele, orai uns pelos outros, a fim de que sejais salvos (Tgo 5, 16). Uns aos outros! Isto é: confessai os vossos pecados a um homem, que tenha recebido o poder de perdoá-los.
S. Tiago fala aqui na confissão dos pecados, pública ou particular, porque tanto uma como outra é sufi- ciente, e da confissão feita aos sacerdotes, que são os únicos que têm o poder de absolver. De que serviria, com efeito, confessar pecados íntimos ao público, que não os pode absolver, e ficaria escandalizado?
Além disto, quem quereria confessar os seus pecados àqueles que poderiam divulgá-los e fazer perder a boa reputação? Os protestantes gritam contra a confissão auricular, isto é, particular, feita na intimidade. Sendo só isso, fiquem sossegados, pois, se a confissão auricular é suficiente, não é exigida e é permitido fazer a confissão pública... até na praça pública, se quiserem; basta o sacerdote estar presente para absolver. Deus não exige isso, pois em parte alguma figura a palavra confissão pública; porém, querendo fazer mais do que a lei ordena, é permitido...
VII. A declaração dos pecados
Agora mais um pequeno raciocínio sobre os muitos textos já citados, meu caro crente. Está, pois, bem provado que o padre pode perdoar os pecados; nada mais claro: Aquele a quem perdoardes os pecados, serão perdoados (Jo 20, 13).
Convém notar que ninguém pode perdoar sem saber o que perdoa. Não é assim? O sacerdote é um juiz que deve decidir quais são os pecados que devem ser absolvidos. Ora, um juiz não pode pronunciar uma decisão sem ter conhecimento da causa. É, pois, necessário o pecador declarar seus pecados ao sacerdote. A conclusão é inevitável.
E não dizer - como certos crentes fazem - que o padre não é juiz, mas declara apenas que os pecados são perdoados. Não! O poder, que Jesus Cristo deu nos apóstolos, é o poder de ligar e de desligar e não o poder de declarar que o penitente está ligado ou desligado. Cristo disse, antes de comunicar este poder: Eu vos darei as chaves do reino do céu (Mt 16, 19). Ora, as chaves são dadas para abrir e fechar a porta, e não para declarar que a porta está aberta ou fechada.
S. Agostinho diz muito a propósito: Peço diante de Deus, que conhece o meu coração e me perdoará. Jesus Cristo teria dito, então, sem razão: o que desligardes na terra será desligado no céu? Foram então as chaves dadas à Igreja, sem algum fim?
VIII. Conclusão
Eis, caros protestantes, provado pelo bom-senso pela Bíblia que a confissão não é invenção dos padres, mas sim uma instituição verdadeiramente divina.
Instituição figurada e praticada no Antigo Testamento, e elevada por Jesus Cristo à dignidade de sacramento da nova lei. O Antigo Testamento era figura da realidade instituída por Cristo. Examinai pois as escrituras, amigos, e sabereis compreender o que elas ensinam e prescrevem: A letra mata, o espírito vivifica (2 Cor 3, 6). É preciso não somente ler, mas compreender a Bíblia, do contrário, não passam de simples papagaios ou araras.
A Igreja católica não receia a luz, nem o estudo, só receia a ignorância.
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