sábado, 13 de agosto de 2022

QUAL É O DIA DO SENHOR?

 


Texto do Pe. Júlio Maria de Lombaerde. Notas nossas.


Os sabatistas sustentam que o dia que se deve guardar é o sábado e não o domingo.

Tais sabatistas são uma ramificação dos adventistas, fundados em 1831 por um fazendeiro norte-americano: Wiliam Miller[1].

No principio guardavam eles o domingo como dia santo, mas como protestante protesta sempre, uns adventistas começaram a protestar contra a guarda do domingo, e em 1844 constituíram os Adventistas do sétimo dia[2] ou sabatistas, formando um novo ramo[3] da prolífera árvore plantada por Lutero.

O ensino fundamental da nova seita é a observação da lei do sábado, em vez do domingo. Tudo lhes é permitido, desde que guardem o sábado.

Considerando protestantemente a tal seita sabatista, esta tem razão de guardar o sábado, pois não admitindo nem a ab-rogação de certos pontos da lei antiga, deve seguir esta lei; porém está também protestantemente errada, porque se guarda a lei do sábado, porque rejeita leis similares a esta, da mesma importância, e ditadas por Deus no antigo Testamento?

Segundo o ensino do Evangelho estão redondamente errados, seguindo uma lei cerimonial ab-rogada por Jesus Cristo, e substituída por outra.

O sábado não é mais dia santo na lei evangélica, mas sim o domingo. É o que vou provar aqui, de modo insofismável.


I. A LEI DO SÁBADO


A lei do sábado existiu no Antigo Testamento; é certo, porém, [que] tal lei não tem o sentido que os sabatistas lhe atribuem.

Para provar a sua pretensão, eles citam uma lista longa de textos da Bíblia:

O sétimo dia será o sábado do descanso (Lv. 23, 3).

Guarde o meu sábado, porque é um dia santo (Ex. 31, 14).

O sábado é o dia do Senhor (Lv. 23. 3).

Em seis dias o Senhor criou o céu e a terra... abençoou o dia do sábado (Ex. 20, 11).

O Senhor teu Deus, te tirou do Egito... por isso te ordenou que guardasses o sábado (Dt. 5, 15).

Guardarão o sábado por conceito perpétuo (Ex. 31, 16). E assim em diante.

Uma tal lista impressiona uma pessoa ignorante, porém, tal impressão se desvanece quando se mostra que tal lei era feita para os judeus e não para os cristãos; que era uma lei cerimonial própria dos judeus, que nenhuma relação mais tem com a lei dos cristãos.

É fácil provar isto; e qualquer pessoa sensata compreenderá estas provas.

Em primeiro lugar: Que quer dizer a palavra sábado?

Significará tal palavra um dia determinado no calendário ou apenas o último dia de uma série de sete dias?

Eis uma pergunta que resolve tudo e lança por terra a pretensão dos sabatistas.

Trata-se de fato de um sétimo dia, que deve ser um dia descanso, é a significação da palavra sábado, que quer dizer: descanso.

Logo, onde a Bíblia diz: sábado, podemos dizer descanso.

Suponhamos agora que o governo decrete a seguinte lei: Todas as semanas haverá um dia de descanso, sendo proibido trabalhar neste dia, etc. Em outros termos, prescrevem-se seis dias de trabalho e um de descanso.

Como será que o mundo interpretará tal lei?

Todos compreenderão que se trata de um dia de descanso na série dos sete dias, e que tal dia, para haver uniformidade, deverá ser indicado pela autoridade, pois o sétimo dia depende do primeiro.

Contando-se o domingo como o primeiro dia, o sétimo será o sábado; mas começando na segunda-feira, o sétimo será o domingo.

Na ordem espiritual estamos diante do mesmo problema. Os judeus começaram a contar do domingo, e fixaram o sétimo dia no último da série, como era natural, chamando-o, por isso: sábado, ou dia de descanso.

A Igreja Católica, por razões justificadas que exporei abaixo, começou o cálculo na segunda-feira, e terminou deste modo um dia mais tarde, dia que se tornou sábado, o descanso do domingo.

No novo cálculo como no antigo, a ordem divina é respeitada: o sétimo dia é um dia de descanso, um sábado dominical.

É o que o bom senso nos indica e [é] o que ele justifica, sem nenhuma quebra da lei divina.


II. O QUE É UM SÁBADO


O sentido acima exposto prova-se por analogia, por textos equivalentes da Bíblia.

Deus não prescreveu somente um sábado, ou dia de descanso, por semana, há outras prescrições sabatinas na lei antiga, de igual valor e idêntica significação.

Recolhamos apenas três outros sábados positivamente prescritos por Deus.

Havia de 7 em 7 anos um ano chamado sábado, porque durante o correr deste, após os outros 6 de trabalho, deviam os judeus deixar descansar a terra.

O sétimo ano será o sábado da terra e do descanso do Senhor (Lv. 25, 4 – Ex. 23, 10).

Eis uma passagem que indica claramente que não se trata de tal ou tal dia do calendário, mas sim do último dia, ano ou época de uma série de sete.

Se a palavra sábado indicasse necessariamente o nosso sábado atual, como é que Deus pode chamar sábado um ano inteiro?

Só fazendo parar o sol como Josué!

É ridículo sustenta-lo.

Sábado é o último dia, ou último mês, ou último ano, de uma série de sete. Aliás, é a explicação que dá a própria Bíblia, repetindo cada vez como nos textos acima: sábado ou descanso.

***

Uma segunda prova se tira de outra prescrição sabatina: a do sábado de semanas.

Deus prescreveu ainda que houvesse sábado ou descanso, após sete semanas de anos, ou depois de 49 anos: era o Jubileu dos judeus.

Contarás também 7 semanas de anos, isto é, sete vezes sete... e no sétimo mês, no dia 10 do mês tocarás a trombeta por toda vossa terra... e santificarás o ano quinquagésimo... porque é Jubileu (Lv. 25, 8).

***

Um terceiro sábado é prescrito por Deus, de sete em sete meses: é o dia da expiação solene, no qual o povo deve oferecer um holocausto ao Senhor, e este dia é chamado por Deus: o sábado do repouso.

Aos 10 deste sétimo mês será o dia soleníssimo das expiações e chamar-se-á santo... É o sábado do repouso. Celebrareis os vossos sábados de uma tarde até a outra (Lv. 23, 27. 32).

De sete em sete meses há pois um dia consagrado a Deus; este dia deve ser o décimo do sétimo mês, de modo que assim determinado tal dia não pode cair sempre num sábado, mas varia conforme o tempo; entretanto é chamado por Deus sábado, não por ser o sétimo da semana do calendário, mas por ser o último de uma série de sete.

***

O próprio Deus, aliás, recapitulando depois as suas prescrições a respeito das festas e dias santos, diz:

Desde o dia 15, pois, do sétimo mês... celebrareis as festas do Senhor durante 7 dias: no primeiro e no oitavo dia haverá o sábado, isto é, o descanso (Lv. 23, 39).


III. POR QUE O SÁBADO?


Eis um ponto luminoso e bem provado:

A palavra sábado não é tal dia determinado no calendário, mas sim o último dia de uma série de sete dias, cuja série forma uma semana.

Tudo depende, pois, do ponto de partida, ou do dia que se adota como o primeiro.

No Antigo Testamento o dia do Senhor era o sábado da nossa semana atual, porém se apresenta agora a pergunta: pode ou não se pode mudar este dia?

A resposta é fácil.

Vejamos primeiro a razão da escolha do sábado como dia santo.

A Bíblia nos indica três razões:

1. Em lembrança da Criação: em 6 dias o Senhor criou o céu e a terra... e abençoou o dia do sábado (Ex. 20, 8-11).

2. Em lembrança da libertação do Egito: O Senhor teu Deus te tirou do Egito... por isso te ordenou que guardasses o sábado (Dt. 5, 12. 15).

3. Em lembrança e como sinal de aliança entre Deus e o povo de Israel: Guardarão o sábado por conceito perpétuo (Ex. 31, 16).

Estas três razões, como se vê logo, são particulares aos judeus, e como tais, entram na categoria das leis cerimoniais e não nas leis dogmáticas, morais ou legislativas universais. Como tal o sábado é antes uma convenção que um preceito positivo.

Uma palavra de Nosso Senhor confirma tal asserção: O sábado foi feito para o homem, diz ele, e não o homem para o sábado (Mc. 2, 27-28), o que quer dizer que o homem deve observar o sétimo dia da série, sem ser escravo deste dia, ao ponto que o julgue imutável.

O descanso do sábado é imutável: o dia do sábado não o é.


IV. AB-ROGAÇÃO DO SÁBADO


Para compreender isto basta lembrar que na lei antiga havia quatro espécies de leis:

1. Leis dogmáticas;
2. Leis morais;
3. Leis cerimoniais;
4. Leis nacionais.

Destas leis só ficam de pé no Novo Testamento: 1) as leis dogmáticas, complementadas por Nosso Senhor Jesus Cristo e, 2) as leis morais aperfeiçoadas por Ele.

Quanto às leis cerimoniais eram figurativas, devendo desaparecer diante da realidade[4].

As leis nacionais dos judeus desapareceram igualmente diante da legislação universal do Evangelho.

Eis o que é admitido por todos, católicos e protestantes.

É mister saber agora em que categoria se deve colocar a lei do sábado.

A resposta não é difícil.

O sábado não pertence ao Dogma, porque não exprime nenhuma verdade fundamental da religião.

Nem pertence à moral, como dia, pois não prescreve o modo e agir, mas apenas indica o descanso (a santificação do sábado pertence à moral).

É uma lei cerimonial.

Ora, as lei cerimoniais foram ab-rogadas por Jesus Cristo.

A rejeição do povo de Israel incluía a rejeição das suas cerimônias. Como se pode ver no profeta Oséias, Deus diz: E farei cessar todos os seus cânticos de alegria, os seus dias solenes, as sua luas novas, o seu sábado e todas as suas festas do ano (Os. 2, 11).

É uma prova que Deus não deu o sábado como lei imutável, mas como lei cerimonial que terminou com as festas e outras cerimonias dos judeus.

Vejamos agora o que disse Jesus Cristo a respeito do domingo.

Um princípio fundamental é que todos os preceitos da lei cerimonial não confirmados por Nosso Senhor ficam ab-rogados.

Um vez os judeus atacaram o Salvador porque Ele havia curado um aleijado em dia de sábado (João 5, 8-17). Jesus respondeu: Meu pai trabalha sempre e eu também trabalho.

É como se dissesse: O sábado depende de mim e eu não dependo do sábado, querendo ab-rogá-lo, está em meu poder. Por isso Nosso Senhor se chama Senhor do sábado (Mt. 12, 8) e mandou ao aleijado curado carregar sua cama, como permitiu as apóstolos colher espigas de trigo no sábado, embora ambas estas coisas fossem proibidas neste dia.

Ora, se o sábado fosse uma lei natural, Nosso Senhor não poderia permitir nem mandar que fosse violado, como ele não pode permitir a mentira, o roubo, o assassínio, a desobediência e outras violações da lei natural.

Logo, a lei do sábado é uma simples convenção, é um preceito cerimonial que pode ser ab-rogado, e que de fato o foi.


V. PROVA DE RELAÇÃO


Citemos mais uma prova da ab-rogação do sábado: prova de relação – ou prova tirada das relações que há entre as diversas prescrições.

O sabatistas querem conservar o sábado da semana; mas por que não conservam eles os três outros sábados acima mencionados? O sábado do sétimo ano, o sábado das 7 semanas de anos e o sábado de 7 meses?

Eis quatro sábados prescritos por Deus. Por que os sabatistas querem conservar o sábado da semana e rejeitam os 3 outros sábados, íntima e inseparavelmente unidos ao primeiro?

É ilógico: ou devem adotar a lei sabática inteira, ou então admitir que seja ab-rogada.

Onde encontram eles a abolição dos três outros sábados, de meses, de anos e semanas de anos?

Têm que escolher: ou tudo caiu ou tudo ficou de pé; mas de nenhum modo se pode separar o que Deus uniu.

Deste modo, os próprios sabatistas demonstram não tomarem a sério a tal lei do sábado.

Este argumento deve estender-se mais longe ainda.

***

Se a prescrição do sábado é uma prescrição cerimonial, que os sabatistas querem absolutamente conservar, pode-se perguntar-lhes: por que eles observam esta prescrição e rejeitam centenas de outras de igual valor e importância?

Por que não praticam eles a circuncisão (Gn. 17, 10) tão rigorosamente prescrita por Deus?

Em que o dia de sábado é superior à circuncisão?
E depois, por que rejeitam as neomênias ou dias lunares? (Sl. 80, 4)
E os sacrifícios? (Lv. 6, 14)
E os holocaustos? (Lv. 7, 8)
E as oblações? (Lv. 2, 1)
E as libações? (Nm. 10, 1)
E as Páscoas com as suas cerimônias? (Ex. 12)
E a festa das primícias? (Nm. 28 – 26)
E a festa dos tabernáculos? (Lv. 23 – 39)
E a cerimônia da expiação (com o bode expiatório, Azabel)? (Lv. 14) etc. etc.

Por que deixam as mil prescrições particulares que regulam o jejum, as purificações legais, as carnes etc., (Lv. 3, 17), o direito civil e criminal (Dt. 16, 18), os empréstimos (Dt. 15, 7), os depósitos (Lv. 6, 2), as propriedades (Ex. 21, 33), os salários (Lv. 27, 13) etc. etc.?

***

Por que entre as múltiplas, ou melhor, entre as milhares de prescrições cerimoniais ou nacionais, os sabatistas conservam unicamente o sábado, só o sábado, e rejeitam todo o resto?

A Bíblia é a palavra de Deus ou não o é?

Se é: deve ser aceita integralmente.

Se não é: deve ser rejeitada completamente, pois carece de autoridade.

Basta esta contradição flagrante para provar que o dia de sábado é apenas um dia de convenção cerimonial, que pode ser mudada em qualquer momento pela autoridade competente. O que importa, o que é lei imutável é que na série de 7 dias o último seja santificado, sem que seja lei imutável qual é o primeiro dia de tal série.


VI. DIA DO DOMINGO


Sendo ab-rogadas as prescrições cerimoniais, e pertencendo o sábado a esta categoria de prescrições, é pois lógico que tal sábado seja também ab-rogado, e substituído por outro dia.

Em virtude da lei antiga o sábado deixa pois de ser tal dia determinado do calendário, porém, fica em pé como dia de descanso.

É preciso agora procurar no Evangelho, qual o dia indicado pelo Salvador ou pelos Apóstolos, como sendo o dia santo do Cristianismo.

A observação do domingo, na nova Lei não é prescrita, nem pela natureza, nem por lei divina positiva, mas nos é transmitida pela tradi­ção e depois prescrita por lei eclesiástica.

Quais são as razões desta mudança?

A razão é tríplice, como tríplice era a razão do sábado antigo.

Na lei antiga havia as três razões:

1. Lembrança da criação;

2. Lembrança da libertação do Egito;

3. Lembrança da aliança entre Deus e o povo.

Estas três razões, que se referem ao povo de Israel são substituídas por três razões análogas que se referem aos cristãos.

1. Lembrança da ressurreição;

2. Lembrança da libertação do pecado.

3. Lembrança da vinda do Espírito Santo.

Estas três razões são próprias dos cristãos e são tão decisivas para eles, como eram decisivas para os judeus as razões da escolha do sábado.

A ressurreição de Jesus Cristo, o seu triunfo sobre a morte e o pecado, a fundação da Igreja no Cenáculo, a vinda do Espírito Santo, o início da pregação apostólica, tudo isso forma como a base da Igreja Católica e deve ser relembrado pelo dia santo, que deverá por isso chamar-se: o dia do Senhor, como o chama São João: In Dominica die. (Ap. 1, 10).

O domingo, como dia santo, tem pois por base os grandes acontecimentos da fundação da Igreja, e foi observado pelos próprios Apóstolos, como vemos pela tradição e a história.

Os Apóstolos, depois da ressurreição, ocorrida no domingo, ou primeiro dia, começaram a reunir-se e santificar este dia, para celebrar os santos mistérios e pregar o Evangelho.

E no primeiro dia da semana tendo nos reunido para a fração do pão, dizem os Atos (20, 7).

S. Paulo, em Corinto, mandou fazer a coleta para os pobres de Jerusalém também no primeiro dia da semana, (Cor. 16, 2) o que prova que tal era o dia da reunião dos fiéis.

O mesmo S. Paulo, rebatendo os erros de uns falsos apóstolos, escreve aos Colossenses: que ninguém, pois, vos julgue pelo comer, nem pelo beber, nem por causa dos dias de festa, ou das luas novas, ou dos sábados, que são sombra das coisas vindouras (Col. 2, 16-17).

É a prova mais patente para demonstrar que o sábado havia sido definitivamente substituído pelo domingo, sendo o sábado a sombra do dia santo da ressurreição, ou domingo, no dizer do Apóstolo.

O Didaché, ou doutrina dos 12 Apóstolos, que no fim da vida de S. João, ou logo depois da sua morte, servia de catecismo aos cristãos em Roma, diz: No domingo do Senhor reuni-vos, quebre o pão e fazei a Eucaristia, depois de primeiro ter confessado os vossos pecados, para que o vosso sacrifício seja limpo. (Cap. XIV).

Santo Ignácio, que foi discípulo de São João, escreve: Aqueles que estavam ocupados com as coisas velhas, chegavam à nova confiança, não guardando mais o sábado, mas vivendo conforme o dia do Senhor (Dominica die) ou domingo, porque neste dia Cristo ressurgiu.

São Barnabé, Tertuliano, São Clemente e São Justino Mártir, todos eles dos dois primeiros séculos, referem-se à guarda do primeiro dia da semana como sendo o dia do Senhor: Dominica die. (Kuriaké émera).


VII. CONCLUSÃO


Como se deve deduzir do que precede, a ab-rogação do sábado, como sendo uma prescrição cerimonial é um fato certo, indiscutível.

Quanto à substituição do sábado pelo domingo, já foi como preparada pelo próprio Jesus Cristo, permitindo aos apóstolos e aos enfermos fazerem ações que eram proibidas pelas prescrições sabatinas, e declarando que ele é o Senhor do sábado.

Vemos depois os apóstolos, desde o início de seu apostolado escolherem o domingo, santificando-o pela celebração dos santos mistérios e a pregação do Evangelho.

O domingo é pois uma instituição apostólica, ratificada mais tarde pela autoridade da Igreja, para manter a uniformidade da prática e distinguir definitivamente os cristãos dos judeus.

O domingo foi oficialmente reconhecido no império romano pelo imperador Constantino em 321, não instituído, mas reconhecido como dia santo dos cristãos.

O domingo é pois o verdadeiro e único sábado, ou dia de descanso, dos cristãos, enquanto o sábado antigo continua a ser o dia de descanso para os judeus que ainda esperam o Salvador, e para os sabatistas que nem sequer acreditam no ensino deste mesmo Salvador, mas lhe antepõem a lei dos judeus.

Conservando de fato o sábado como dia santo, eles conservam as prescrições judaicas, e rejeitam a prática dos Apóstolos, os ensinamentos da tradição e as prescrições da Igreja Católica: o que é próprio do protestantismo.

Os sabatistas, como protestantes, têm razão de guardar o sábado, para poderem contradizer a Igreja Católica, enquanto as outras 887[5] seitas protestantes, acompanhando as prescrições da Igreja Católica, deixam de ser protestantes, neste ponto, e como tais, são ilógicas e incoerentes, pois a essência de uma seita protestante é protestar contra a Igreja.

Mas apesar de tanta balbúrdia e tantas lutas entre eles, de vez em quando são obrigados a reconhecer que só a Igreja Católica conserva intactas as instituições apostólicas, como conserva íntegra e pura a palavra divina da Sagrada Escritura.

Os sabatistas estão pois errados em defender a manutenção do sábado, como estão erradas as outras seitas, combatendo os sabatistas, por serem estes mais protestantes do que elas.

É a mania de brigar!

E no meio destas brigas, fica firme, impávida, imutável e sempre radiante de santidade, a única Igreja verdadeira de Jesus Cristo, a Igreja Católica, Apostólica, Romana. 

Esta Igreja nunca vacilou em sua crença e convicção, mas desde os Apóstolos adotou o domingo como sábado cristão, ou dia de descanso religioso.




______________________
[1] William Miller era um fazendeiro irreligioso que nasceu em 15 de fevereiro de 1782, em Pittsfield, Massachusetts, Estados Unidos da América. Aos 34 anos foi convertido numa religião “revificadora” e fez-se Batista. Depois de um ardente estudo da Bíblia, qualificou-se como pregador e passou a ensinar sobre as profecias Bíblicas, aliando o livro de Daniel ao Apocalipse. Chegou, então, à conclusão de que o Papado era o anticristo. Concluiu também, com base em Daniel (8, 14), que a purificação do santuário se referia à volta de Cristo e que esta volta de daria em 21 de março de 1843.

Fundado nessas convicções, começou, em 1818, a pregar por todo o país o fim do mundo e fundou um jornal chamado “Os Sinais dos Tempos”, no qual conseguiu espalhar a sua crença. Nesse interregno, rompeu com os Batistas e passou a ser conhecido, juntamente com seus seguidores, como “Milleristas”. Chegado o tão esperado dia, como evidente, nada aconteceu. Miller voltou, então, aos cálculos e descobriu que errara o ano, em verdade a volta de Cristo se daria em 21 de março de 1844. Falhando também esta, ele mudou a data para 22 de outubro de 1844. Mas o fracasso desta última data o arruinou e teve de reconhecer que não sabia quando Cristo voltaria, conquanto defendesse que isto se daria logo.

Em 1845 os Milleristas se reuniram em conferência e redigiram sua declaração de fé na vinda iminente de Cristo; na crença só na Bíblia; na ruína do Papado e no Reinado Milenário de Cristo na Terra (crença judaica conhecida como milenarismo, que ainda hoje tem muitos adeptos). Nesta conferência foram excluídos os observantes do sábado, pois os Milleristas não viam nada de errado na guarda do Domingo.

William Miller morreu em 20 de dezembro de 1849 e, segundo os Adventistas do Sétimo Dia, esteve sujeito a um logro satânico pela sua observância do Domingo.


[2] A seita de William Miller não podia resistir ao fracasso das profecias de seu fundador e estava perdendo gradualmente seus adeptos. No entanto, um tal Hiram Edson (outro “iluminado”), de Port Gibson, fez uma descoberta notável: os cálculos de Miller eram exatos, porém ele havia compreendido mal a natureza da segunda vinda de Cristo. Tratava-se, em verdade, segundo uma “revelação” recebida por Edson, de que o santuário a ser purificado era no Céu. Para confirmar sua descoberta, citou Hebreus (8, 1-2): “Temos um Sumo Sacerdote... nos céus; um ministro do santuário”. Portanto, a 22 de outubro de 1844, Cristo entrou no santuário celeste para purificá-lo. Lá Cristo permanece analisando os documentos de todo o gênero humana, tanto dos mortos como dos vivos.

Já em 1884, a senhora Ellen G. White escreveu, confirmando Edson, que “O juízo está passando agora ao santuário superior. Quarenta anos esse trabalho vem-se processando (haja criatividade! Será o Céu uma repartição pública?). Breve – e ninguém sabe quando – ele passará aos casos dos viventes”. Ao final do exame dos livros “Cristo voltará à terra para executar o juízo em conformidade”. Trata-se do chamado “juízo investigativo”.

Pois bem, mas a senhora White se introduziu na história a partir de 1842, quando ainda se chamava Ellen G. Harmon. Foi convertida em um comício adventista “revificador” dirigido pelos Milleristas e, imediatamente, começou a ter sonhos “divinamente inspirados”. Tais sonhos, ao que tudo indica, deviam-se a acessos de languidez e de epilepsia, os quais a própria Ellen havia admitido sofrer desde a meninice. Precisamente após os desmaios é que ela recebia as pretensas profecias.

Em 1846 ela se casou com Elder James White e ganhou muito prestígio no movimento adventista. Aceitou a doutrina de Hiram Edson e fez acréscimos próprios, oriundos das pretensas profecias. Nessa época ela diz ter recebido um sonho no qual Jesus, no Céu, lhe mostrava as Tábuas da Lei com o mandamento “Lembra-te de santificar o dia do sábado”. Foi esta tal visão que causou um rompimento com os seguidores de William Miller. Foi então que, em 1860, em Battle Creek, Michigan, sob a chefia de Joseph Bates, Elder James White e Mrs. Ellen G. White, foi formada a denominação “Adventista do Sétimo Dia”.

Mrs. White morreu em 1915, e embora fosse uma mulher de pouca educação, seus escritos e profecias são tomados pelos adventistas do sétimo dia como inspirados e infalíveis e, ademais, são colocados no mesmo nível da Sagrada Escritura. A única interpretação autêntica da Escritura, para um adventista do sétimo dia, são os “Testemunhos” de Ellen G. White. Ela própria dedicou 38 páginas do seu “Testemunho nº 33” para defender a sua inspiração divina (uma pretensão à infalibilidade que excede de longe qualquer uma jamais feita pelo Papa! – lembre-se que o Papa só é infalível se cumprir as quatro condições vaticanas, mas a senhora White é infalível sempre!).


[3] Por não ter Magistério, o protestantismo tende à desagregação. As dissensões milleristas, por exemplo, deram lugar à “União Vida e Advento”; aos “Adventistas do Sétimo Dia”; à “Igreja Cristã do Advento”; à “Igreja de Deus (Sétimo Dia)”; às “Igrejas de Deus em Jesus Cristo”; à “Igreja de Deus” (Oregon, Illinois); à “Igreja de Deus, Adventista”; à “Igreja da Bendita Esperança”; aos “Restitucionistas”; aos “Adventistas da Idade Vindoura”; à “Igreja Cristã do Primitivo Advento”. Cada uma delas ou acrescenta algo novo ou não crê em algo professado pelas demais. Em 1865, por exemplo, Elder Gilbert Cranmer abandonou os “Adventistas do Sétimo Dia” para fundar a “Igreja de Deus, Adventista”, pois era contra a pretensão de Mrs. White de pretender-se inspirada.

De todas estas, a mais progressista e ativa, e por isso mesmo, a mais conhecida, é a adventista do sétimo dia.

Para se ter uma ideia da entropia no meio protestante, somente dos sabatistas surgiram os seguintes ramos: “Igreja Adventista do Sétimo Dia”; “Igreja Adventista da Promessa”; “Igreja Batista do Sétimo Dia”; “Assembleia de Deus do Sétimo Dia”; “Congregação Cristã do Sétimo Dia”; “Igreja Cristã Nova Vida do Sétimo Dia”; “Igreja Nova Vida de Deus do Sétimo Dia”; “Igreja Evangélica Internacional dos Soldados da Cruz de Cristo”; “Igreja de Deus do Sétimo Dia”; “Igreja Missão Adventista da Promessa”; “Igreja Adventista Pentecostal”; “Igreja Adventista da Promessa Conservadora”; “Igreja Adventista do Sétimo Dia da Completa Reforma”; “Igreja Adventista da Reforma”; “Igreja Cristã Bíblica Adventista”; “Ministério Adventista Bereano”; “Igreja Bíblica de Deus”; “Igreja da Comunidade Ahtanum”; “Assembleia do chamado Eterno”; “Igreja Apostólica de Deus do Sétimo Dia”; “Igreja Arca Internacional”; “Igreja Filhos da Promessa”; “Igreja Bíblica Cristã de Deus”; “Igreja cristã de Deus”; “Igreja Cristã da Família de Deus”; “Igreja da Verdade Bíblica”; “Igreja de Cristo do Sétimo Dia”; “Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias Renovada”; “Igreja de Jesus Cristo do Sétimo Dia”; “Assembleia Tempo de Deus”; “Igreja Batista Evangélica do Sétimo Dia”; “Igreja Holiness Deliverance”; “Igreja Primícias de Sião”; “Igreja Liberdade Bíblica”; “Igreja Mundial de Deus do Sábado”.

Para uma lista completa, clique aqui.


[4] A realidade é Cristo (Col. 2, 17); A finalidade da lei é Cristo (Rom. 10, 4).


[5] Hoje são mais de 33 mil seitas protestantes.

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